Autor: Paulo Fernandes de Almeida
Mini-Bio: Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela PUCPR, doutorando em Gestão Urbana pelo PPGTU/PUCPR. Possui experiência nas áreas de arquitetura e urbanismo como arquiteto autônomo, docência em nível superior e na área de segurança pública como agente de segurança.
Titulação: Doutorando
País: Brasil
Estado: Paraná
Cidade: Colombo
Email de contato: paulofa2008@gmail.com
ORCID:
Autor: Mario Procopiuck
Mini-Bio: Professor e líder da linha de Pesquisa em Políticas Públicas do Programa de Pós-graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, vice-coordenador eleito do Comitê de Assessores da Área de Ciências Sociais Aplicadas e Bolsista de Produtividade da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná. Atuação nas áreas de Estudos Organizacionais e Políticas Públicas.
Titulação: Doutor
País: Brasil
Estado: Paraná
Cidade: Curitiba
Email de contato: mario.p@pucpr.br
ORCID:
Contribuição de cada autor:
O trabalho foi realizado com esforços igualitários de ambos os autores. Paulo Almeida realizou a parte da conceituação, levantamento e análise de dados, metodologia, e redação. Mario Procopiuck realizou a análise e interpretação dos dados e validação de dados.
Os atuais níveis de violência no Brasil põem em xeque os modelos tradicionais de policiamento e indicam a necessidade de um tratamento mais holístico e interdisciplinar. No entanto, ainda são raros os trabalhos que lidam com esse problema considerando simultaneamente a criminalidade, a paisagem e a percepção de segurança. Assim, este artigo tem por objetivo trazer possibilidades teórico-conceituais e analisar criticamente a produção científica publicada em periódicos nacionais sobre o tema violência, gestão urbana e paisagem urbana. A busca por artigos se deu na base de dados SciELO, sendo selecionados apenas aqueles que abordam a questão da segurança pública e/ou criminalidade associada ao espaço urbano. Apenas um estudo trata da percepção espacial da violência, considerando simultaneamente a criminalidade a paisagem e a percepção de segurança. Portanto, constatada a carência de análises qualitativas e quantitativas com foco na interdisciplinaridade.
Safety and urban management: a critical analysis of national scientific production
Current levels of violence not only challenge traditional models of policing in Brazil but also show the need for more holistic and interdisciplinary treatment. However, studies that deal with the problem taking into consideration simultaneously the landscape, the criminality and the security perception are rare. Thus, this article aims to bring theoretical and conceptual possibilities as well as critically analyze the scientific production published in national journals on the subject of violence, urban management, and urban landscape. The search for articles took place in the SciELO database, and only those addressing the issue of public security and/or criminality associated with urban space were selected. Only one study deals with the spatial perception of violence, while considering simultaneously the criminality, the landscape and the perception of security. Therefore, the lack of qualitative and quantitative analyses with a focus on interdisciplinarity was observed.
DOI:
Data de recebimento: 24/05/2019
Data de aprovação: 13/08/2020
Na segurança pública, o Estado, como detentor do direito à obediência dos cidadãos e, em contrapartida, com a obrigação ─ ou, mais, com a promessa ─ de protegê-los das ameaças à existência precisa ser capaz de cumprir o seu papel. No entanto, no momento atual e em diferentes contextos, o Estado tem “rebaixado” a luta contra os medos para a “política de vida”, desviando-se da esfera da segurança para a da proteção (BAUMAN, 2008). No caso brasileiro, em face da histórica incapacidade de dar cumprimento às políticas de Estado, as políticas de governos ainda têm se mostrado insuficientes para a construção de soluções sistemáticas e duradouras na questão da segurança pública.
Nesse contexto, por um lado, parece haver atualmente certo consenso
de que é insuficiente o controle focado apenas em ações repressivas de
polícia para o combate à criminalidade. O desafio estaria, portanto, em
ir além do policiamento tradicional, efetivando ações preventivas
incidentes sobre as causas da criminalidade, ou seja, em trocar o “ideal
de combate ao inimigo” pela defesa dos direitos fundamentais dos
cidadãos (AZEVEDO; MARTELETO, 2008; CARVALHO; SILVA, 2011; BICALHO
Por outro lado, como consequência dessas deficiências estruturais e possibilidades de agir a partir dos direitos fundamentais, as cidades brasileiras tornaram-se reféns da violência, com a população, por sentir-se cada vez mais insegura, tendo que buscar proteção em ações públicas ou imposições de particulares que estão criando limites nas cidades. Esses limites tendem a não ser apenas visíveis, mas também contínuos na forma e prejudiciais à livre circulação das pessoas. São limites que atuam como barreiras para clivar parte as cidades em função de permissões e não permissões de livre fluxo de pessoas e, consequentemente, instituindo um ambiente urbano desconectado e de relações sociais segregadas. Essas estratégias parecem incutir ou cristalizar artefatualmente os interesses sociais e econômicos individuais na forma urbana, com pouca vinculação ao interesse coletivo (LITMAN, 2003; MENDONÇA, 2007; HIRSCHI, 2009; PRADO; MAGAGNIN, 2015). Assim, como a cidade é também consequência e não apenas a causa dos processos sociais (LEFEBVRE, 2006; OLIVEN, 2007; REID-HENRY; SENDING, 2014), essas formas extremas de agir, como se tudo valesse para afastar-se do outro “indesejado”, vêm criando comunidades constantemente amedrontadas, com sérios reflexos na organização da vida cotidiana (FANGHANEL, 2014), e a cristalização dos efeitos indeléveis de tais ações na morfologia e nos fluxos urbanos.
Dado que, sob a perspectiva do indivíduo, a apropriação do espaço
público tende a ser fortemente influenciada pelas suas percepções e
comportamentos (PEREIRA
Nessa linha, considerando que determinadas formas de ordenamento
espacial permitem a conformação de ambientes mais seguros a partir da
ação coletiva institucionalizada no Estado para a formação da paisagem
contextual vivida, o presente artigo traz possibilidades
teórico-conceituais para analisar criticamente a produção científica
publicada em periódicos nacionais sobre o tema violência e gestão
urbana. A investigação foi realizada por meio de revisão integrativa
norteada pelas seguintes questões: qual é o cenário explicitado pela
produção científica publicada em periódicos nacionais sobre tema
violência e gestão urbana? Qual é o espaço atual da inserção da
abordagem da “
O termo “violência” ainda está em construção e as questões atuais a ela inerentes não guardam a mesma relação com seu antigo sentido. Não se pode continuar a aliar, pois, a violência como sendo tão somente associada à agressão física ou moral. É premente, assim, compreender profundamente os seus determinantes sociais; logo, a violência deve ser tratada não como um conceito, mas como representação social, como parte de um problema maior (MISSE, 1995). A violência não está apenas no indivíduo, mas na ruptura de uma expectativa comum dos participantes da interação social (MISSE, 2016). Do contrário, o homem, diante do conflito dualista do princípio do prazer/princípio de realidade, passa a ser guiado pelo princípio de sobrevivência, assumindo que a única providência seria se afastar do mal que o aflige (ENDO, 2005). Assim, com a percepção da fragilidade da ação coletiva, a violência tende a se desenvolver em largas proporções e atingindo o tecido social, de forma degradante (XAVIER; CHAGAS; REIS, 2019).
O estado moderno visto idealmente como detentor do monopólio da violência e ser a expressão da representação da vontade dos cidadãos, tem sua parcela de culpa. Não tem conseguido cumprir, pois, a sua função de garantir proteção suficiente e necessária para preservação da vida. É a quebra deste “pacto social” (ROUSSEAU, 2006[1712-1778]) que tem causado desarmonia social. Portanto, o medo e a sensação de insegurança não são apenas fruto do aumento das chances de vitimização, mas também do aumento da percepção social acerca da violência (CASTELLS, 1999).
No campo da ciência, o impacto da violência sobre o tecido social e a inabilidade dos órgãos estatais para dar respostas eficientes chamavam a atenção dos pesquisadores, já na década de 1980. Nos anos 90, estudos relacionados com esse tema deixaram de ser exclusividade da área Direito e passaram a ser foco também de sociólogos, antropólogos, cientistas políticos etc. Como resultado, atualmente se dispõe de importante acervo de pesquisas, com diferentes perspectivas, que contribui para o enfrentamento do problema e para constatar que a violência não é derivada exclusivamente da dinâmica excludente da economia capitalista (AZEVEDO, 2006) e nem a imposição de poder individual.
Apesar de a Teoria da Desorganização Social – proposta por Clifford
Shaw e Henry MacKay em 1942 – indicar que é mais provável que o crime se
desenvolva em uma comunidade desorganizada socialmente, com altos níveis
de desvantagens socioeconômicas, heterogeneidade étnica e mobilidade
residual (DU
Embora a violência seja herança comum a todo e qualquer grupo, a pretensão das sociedades modernas de controlá-la totalmente é equivocada, pois a violência exige certo grau de socialização e de acordos. Estratégias para seu controle exigem atitude de astucia e negociação, pois pode tomar a forma de uma desarmonia contagiosa, que aprisiona o indivíduo e, por conseguinte, a coletividade. Isso configura um estado de insegurança que gera o medo (TEIXEIRA; PORTO, 1998). Dessa forma, o medo do crime encontra um terreno fértil para prosperar (SOUZA, 2008).
Com base em estratégicas de atuação do Estado, no comportamento ativo individual, na probabilidade do dano sofrido pelo indivíduo e nos reflexos sentidos pela sociedade, parece haver espaços para considerar que a nova ordem social influenciada pela criminalidade se baseia na negação do outro, que não é visto mais como um sujeito, mas com fonte de inseguranças. Dessa forma, a violência está ligada mais ao medo e à insegurança, com sérias implicações para o bem-estar e capital social, o que o torna uma das questões sociais mais relevantes.
Trazendo a questão da violência para o contexto da ação institucional
compartilhada de enfrentamento de dificuldades menos dependente de um
centro claramente definido de poder e mais sujeito à conjunção das
aspirações de uma miríade de atores locais (SILVA e PROCOPIUCK 2019), é
importante considerar que a gestão urbana visa à melhoria das condições
de vida, envolvendo os cidadãos nas decisões e ações (REZENDE; CASTOR,
2006), e, ainda, que os processos de estruturação e a transformação dos
espaços urbanos dependem da utilização de novas categorias de análise
que permitam que o modo como esses espaços são relacionados com a vida e
a reprodução das relações sociais de poder encetem inovações em soluções
práticas (WACHSMUTH 2013; SILVA e PROCOPIUCK 2019). Nessa perspectiva,
surgem possibilidades promissoras de compreensão e enfrentamento da
violência e do medo a partir da abordagem “
A CPTED surgiu na década de 1960, porém assumiu essa denominação
apenas em 1971 (BONDARUK, 2007). Em seu início, a CPTED apresentou
estreito alinhamento com as ideias trazidas na obra de Jane Jacobs,
Uma das premissas atuais da CPTED é que o comportamento humano tende
a ser influenciado por condições físicas e espaciais em que um censo de
comunidade é fundamental para formar espaços públicos seguros. Ou seja,
a defesa do espaço depende da capacidade de união da comunidade
(MONTEMAYOR, 2019). São cinco os princípios e critérios básicos da
CPTED: (a) Vigilância natural: ver e ser visto; (b) estabelecimento
territorial: identidade e propriedade do espaço público; (c) controle de
acesso natural: conjunto de técnicas de
Nesse contexto, a segurança, como objeto de atenção científica,
requer a busca constante pelo conhecimento e pesquisa, o que permitirá a
pesquisadores do campo da segurança pública, juntamente com a
comunidade, fertilizarem ideias para conceber programas e projetos que
permitam atuar com postura mais incisiva sobre o ambiente, a fim de que
se consiga preservar a ordem pública e melhorar a qualidade de vida.
Nesse sentido, são contribuições precedentes sobre a apropriação
espacial, as de Hertzberger (2015) sobre a diferenciação entre público e
privado; de Da Matta (2003) sobre as relações público-privadas, mas
focando a rua e a casa; de Santos (2012), que considera os fixos e os
fluxos na abordagem da paisagem urbana; e de Carlos (2001), que
evidencia as diversas dinâmicas inter-relacionadas na vida cotidiana das
metrópoles. Tais obras esclarecem aspectos fundamentais da complexa
articulação entre as diversas escalas espaciais e possibilitam o
embasamento de políticas públicas voltadas para prevenção do crime e
ampliação da segurança nas cidades. Nesse conjunto de ideias, há,
portanto, espaços para aprofundamento do conhecimento sobre a associação
das categorias modelo de policiamento, a criminalidade e o imaginário do
medo, sempre procurando associações com o
Partilhando do entendimento de que cidade não é a causa dos processos
sociais, mas consequência e/ou tão somente o lugar onde tais processos
ocorrem, e de que a cidade se interliga com a sociedade em todas as suas
especificidades, de modo que cidade e sociedade transformam-se
mutuamente (LEFEBVRE, 2006; OLIVEN, 2007), para a formação do
Ribeiro e Teixeira (2018), pautados em técnicas de pesquisa mobilizadas por Adorno (1993), Kant de Lima, Misse e Miranda (2000), Campos e Alvarez (2017), entre outros, analisaram 546 artigos indexados pelas palavras chave “crime”, “violência”, “criminalidade” e “criminal” que versam sobre 25 temas, o que demonstra a diversidade de abordagens teóricas e empíricas no estudo dessas temáticas. Apontam que, embora a maior parte da produção esteja centrada na sociologia, a interdisciplinaridade e a diversidade metodológica são significantes, e que o “calcanhar de aquiles” da sociologia do crime, violência e dinâmica criminal é a realização de estudos quantitativos.
Nóbrega Jr (2018) também trouxe valiosas contribuições. O autor fez
sua revisão sem levar em conta palavras chaves geralmente relacionadas à
área de políticas públicas. A intenção foi elencar quais áreas se
dedicam ao estudo da segurança pública como uma
O diferencial do presente estudo, em relação aos anteriormente citados, está na utilização dos seguintes descritores: “segurança pública”, “criminalidade”, “espaço urbano”, “medo” e “violência” na busca por artigos. O intuito foi o de localizar apenas os artigos que abordassem a questão da segurança publica e/ou criminalidade associada ao espaço urbano, mais especificamente, aqueles que inter-relacionam criminalidade, paisagem contextual percebida e percepção de segurança, independentemente da área do conhecimento e da disciplina, visto que a interdisciplinaridade é positiva e desejada no estudo do espaço urbano. Os artigos serão analisados tendo como pano de fundo as constantes transformações sociais sob o viés da atuação estatal, da gestão urbana, do âmbito dos indivíduos, do coletivo e do âmbito contextual-avaliativo.
Num primeiro momento, foram selecionados 458 artigos que continham
pelo menos um dos descritores no título ou no resumo. Como não há
consenso sobre o que se considerar quanto à gestão urbana (RIBEIRO,
2002; SOUZA, 2005, 2010), foram lidos todos os resumos para verificar
quais tinham relação direta com o espaço urbano. Restaram 30 trabalhos,
que foram lidos na íntegra, cuja síntese está na Tabela 1, e que
compuseram o
Tabela 1: Artigos analisados
Temática Central | Autores do artigo/Ano de publicação | Objetivo do estudo |
---|---|---|
Modelos de Policiamento | [1] Azevedo, M. A. (2003) | Apresentar perspectivas acerca da criminalidade |
[2] Azevedo, M. A.; Marteleto, R. M. (2008) | Reforçar o papel da informação nas tomadas de decisões | |
[3] Andrade, V. R. P. (2013) | Enfatizar a mudança de paradigma sobre a criminalidade | |
[4] Bengochea, J. L. P.; Guimarães, L. B.; Gomes, M. L.; Abreu, S. R. (2004) | Ressaltar a importância da qualificação dos agentes de segurança pública | |
[5] Pradal, F. F. (2017) | Analisar a produção teórica sobre a Biopolítica | |
[12] Oliveira, A. S. (2005) | Enfatizar a necessidade de uma governança democrática | |
[14] Silva, G. F.; Beato, C. (2013) | Discorrer sobre o nível de confiabilidade nos agentes de segurança pública | |
[22] Silva et. al. (2018) | Analisar a efetividade de um programa de governo na prevenção ao crime | |
[23] Filho; De Souza; Alves (2018) | Avaliar o impacto da Guarda Municipal como força auxiliar no combate ao crime | |
[24] Ribeiro; Vilarouca (2018) | Identificar os motivos para a continuidade das UPPs pós olimpíadas | |
Criminalidade | [6] Beato F., C.; Peixoto, B. T.; Andrade, M. V. (2004) | Discorrer sobre a oportunidade para a prática delituosa |
[7] Beato, C. C.; Silva, B. F. A.; Tavares, R. (2008) | Analisar a criminalidade com base em sua distribuição espacial | |
[8] Paixão, A. L.; Beato F., C. C. (1997). | Relacionar vítimas e agentes de segurança pública | |
[9] Tavares, G. M. (2011) | Discorrer sobre as subjetividades criminosas e seus efeitos | |
[10] Adorno, S. (2002) | Relacionar crime a exclusão/segregação social | |
[11] Peixoto, B. T.; Lima, R. S.; Durante, M. O. (2004) | Analisar a distribuição espacial e temporal do crime | |
[13] Batella, W. B.; Diniz, A. M. A. (2010) | Analisar a distribuição espacial do crime | |
[15] Silva, B. F. A.; Beato F., C. C. (2013) | Avaliar o imaginário do medo | |
[16] Ramão, F. P.; Wadi, Y. M. (2010) | Analisar a distribuição espacial do crime | |
[17] Birchal, F. F. S.; Zambalde, A. L.; Mermejo, P. H. S. (2011) | Expor a importância do planejamento estratégico voltado a segurança pública | |
[18] Santos, M. A. F.; Ranires, J. C. L. (2009) | Avaliar o imaginário do medo | |
[19] Hughes, P. J. A. (2004) | Relacionar crime a exclusão/segregação social | |
[25] Cecchetto; Muniz; Monteiro (2018) | Problematiza a relação entre juventude e criminalidade | |
[26] Almeida; Chagas; Ramos (2018) | Analisar a dinâmica entre agentes locais e crimes locais violentos | |
[27] Barause; Saboya (2018) | Investigar se usos comerciais e mistos das edificações são atratores de delitos | |
[28] Cortes; Fochezatto; Jacinto (2018) | Propor uma metodologia para medir a criminalidade | |
Imaginário do Medo | [20] Teixeira, M. C. S.; Porto, M. R. S. (1998) | Discorrer sobre as transformações nas relações sociais em razão da criminalidade |
[21] Rosa, E. M.; Souza, L.; Oliveira, D. M.; Coelho, B. I. (2012) | Apresentar algumas estratégias de combate a criminalidade | |
[29] Borth et. al. (2018) | Identificar os serviços de enfrentamento à violência contra a mulher rural | |
[30] Silva; Alencar (2018) | Descrever algumas formas de enfrentamento à violência |
Fonte: Apêndice A
Tendo como temática central
Ainda sobre a avaliação empírica sobre
Na perspectiva de ação institucionalizada construídas com base em
programas ou projetos para formar
Considerando a atuação de
Apesar da diversidade de trabalhos que versam sobre a necessidade de
uma mudança de paradigma em segurança pública, foi encontrado apenas um
estudo empírico [22] mostrando a efetividade de novos modelos de
policiamento no contexto nacional. A razão pode ser explicada, em parte,
pela resistência dos próprios agentes de segurança em abandonar velhos
hábitos, a vigência da crença de que só se precisa de vigor físico; a
influência de estigmas e preconceitos; e o corporativismo, que impede
que a sociedade entenda a polícia e instigue mudanças. É possível
concluir, portanto, que, apesar de avanços com enfoques mais holísticos,
a falta de respostas mais eficientes por parte dos agentes estatais
tende a persistir enquanto permanecerem esses três pontos que dificultam
a inserção e institucionalização de mudança de postura dos agentes de
segurança e, consequentemente, inovação em
Dos dezoito estudos que têm a
Paixão e Beato (1997) [8] concluíram que as pessoas não recorrem à
polícia para resolver seus problemas de
Silva e Beato (2013) [15] mostram que uma comunidade mais coesa, com
maiores interações entre indivíduos, pode gerar um sentimento de maior
segurança, o que reflete nas agendas de políticas públicas. Isso indica
que, na busca de soluções para a
Tavares (2011) [9] aponta que, na perspectiva do
Peixoto
Como estratégia de ação, Birchal
Cecchetto et al. (2018) [25] mostram o impacto de uma sociedade de consumo na vida de jovens carentes na cidade do Rio de Janeiro (RJ) e verificaram uma fragilidade das identidades sociais e a falta de projetos de vida moral e eticamente aceitos. Parece prevalecer nesses jovens a sensação de “estar sobrando” e a falta de perspectivas no futuro, tornando-se assim mão de obra fácil para o crime, como indicavam os estudos de Azevedo (2006), Souza (2008) e Fanghanel (2014). Barause e Saboya (2018) [27] corroboram estudos que apontam que áreas comerciais são palcos preferenciais para a prática criminosa, sobretudo furto e roubo. Ainda, apontam os benefícios de se investir em bairros de uso misto, com alta diversidade de uso do solo vinculados aos usos residenciais. O uso comercial trás dinâmica ao bairro enquanto o uso residencial trás “olhos” nos períodos em que o comércio está fechado, como já constado por Litman (2003), Mendonça (2007), Hirschi (2009), Prado e Magagnin (2015). Cortes, Fochezatto e Jacinto (2018) [28] utilizaram técnicas de estatística inferencial, utilizando dados da Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul (SSP-RS), do período de 2002 a 2015, para proporem um índice geral de criminalidade. Este trabalho visou principalmente resolver o problema de estimação, comum em municípios de baixa população, que possa ser amplamente utilizado para análises em outras unidades da federação e ou outros recortes temporais.
Ainda, quatro estudos tratam a questão do medo [20, 21, 29, 30],
Teixeira e Porto (1998) [20] apresentaram os fatores externos que
contribuem para o imaginário do medo, que transpassam questões sociais,
econômicas, psicológicas, religiosas e antropológicas. Os autores
alertam que se deve ficar atento para que o
Os outros dois tratam de temas específicos ─ a mulher rural e a ação de profissionais dos direitos humanos em um atentado terrorista. Borth et. al. (2018) [29] apontam as dificuldades e falhas nos programas de enfrentamento da violência contra a mulher rural, que vão desde problemas estruturais, falta de maior aproximação entre os profissionais envolvidos, falta de conhecimento sobre os procedimentos e questões legais envolvendo a temática até a subnotificação dos crimes e a falta de acesso ao serviço por parte das vítimas. Silva e Alencar (2018) [30] apontam para a necessidade de enfrentamento da violência através de práticas de convívio social harmonioso, proteção dos direitos individuais e coletivos e uma maior apropriação do espaço público; logo, em consonância com Montemayor (2019). Assim, a saúde coletiva continua sendo fortemente afetada, pois no tripé do crime (infrator, vítima e ambiente) cada parte vem sendo tratada separadamente, bem como há escassez de mecanismos que promovam de forma apropriada a gestão participativa da segurança pública, indo, portanto, de encontro aos preceitos da gestão urbana contemporânea.
Apenas dois estudos tratam da percepção espacial da violência [18] e [27], considerando simultaneamente a criminalidade (infrator) a paisagem (ambiente) e a percepção de segurança (vítima). Tem-se uma preocupação com os fluxos da paisagem, embora não seja mencionado no texto de forma explicita, percebem-se nesses trabalhos princípios da CPTED. A escassez desses estudos mostra que há espaços para avanços na compreensão e aplicação do CPTED na realidade brasileira.
O tema “violência vinculada ao espaço urbano” é abordado pelos
autores utilizando diferentes métodos de pesquisa, refletindo a
complexidade do fenômeno em questão e enfatizando a necessidade de
diferentes formas de abordagem. Na categoria teórico-metodológicos,
encontram-se os estudos direcionados para a elaboração e discussão de
referenciais teóricos acerca da temática violência, relacionado-a
principalmente com o Direito e Gestão Pública. No entanto, foi
verificada a falta de consenso sobre alguns conceitos, pois, embora
digam respeito ao mesmo assunto, recebem várias terminologias, por
exemplo: rotas seguras, espaços urbanos seguros, percursos da violência,
paisagem segura, dentre outros. Isso evidencia a dificuldade no estudo
de temas relacionados ao urbano, já abordados por Ribeiro (2002), Souza
(2005) e Souza (2010). Com relação aos textos da categoria
Nesse contexto, a problemática da segurança pública abordada sob os preceitos da CPTED parece ser adequada, pois, dada sua abrangência, é a que mais contribui para a afirmativa de que a cidade não é a razão dos processos sociais e sim o seu pano de fundo, como defendido por Lefebvre (2006) e Oliven (2007).
A revisão sistemática permitiu descortinar um contexto de estudos em
que se procura compreender as transformações nas relações sociais em
razão da criminalidade, considerando a sua relação com a exclusão ou
segregação social. No
Sobre experiências de tratamento de espaços urbanos para garantia da
segurança pública, o estudo permitiu verificar a incipiência de estudos
em nível nacional. Dentre todos os textos analisados, apenas dois
relacionam criminalidade, espaços públicos e percepção de segurança,
seguindo preceitos da
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