EDIÇÃO ESPECIAL - VOLUME 16

COMPETÊNCIAS E IMPACTOS DO MESTRADO PROFISSIONAL: O CASO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM SEGURANÇA PÚBLICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Anderson Souza da Silva

Mestrando em Ciências Sociais/Ciência Política pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia - FFCH/UFBA e licenciado em Ciências Sociais/Sociologia pela mesma instituição (2019). Durante a graduação fui bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/UFBA pelo projeto "Bases Comunitárias de Segurança, Modelos e Estratégias de Redução de Riscos Sociais" (2017) e, posteriormente, voluntário, também pelo PIBIC, do projeto "Ecos do Subsolo: influência e (in)visibilidade de um pensamento cosmopolita de matriz comunista no debate com outras esquerdas e com liberais sobre reformismo e democracia no Brasil" (2019).

País: Brasil Estado: Bahia Cidade: Camaçari

E-mail: progespadm@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7145-4857

Ivone Freire Costa

Doutora em Sociologia econômica (UTL/PT). Professora Titular na UFBA. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública - PROGESP (ADM/UFBA).

País: Brasil Estado: Bahia Cidade: Salvador

E-mail: ivoneco@ufba.br ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6451-3719

Taiala Águilan Nunes dos Santos

Mestranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia. Licenciada em Ciências Sociais pela mesma Universidade. Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública - PROGESP e do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade - LASSOS.

País: Brasil Estado: Bahia Cidade: Salvador

E-mail: aguilanufba@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0002-8790-6176

Contribuição de cada autor: Os autores contribuíram de forma efetiva na pesquisa e na produção intelectual do artigo, de maneira responsável e criativa.

RESUMO

O artigo discute as competências e os impactos dos mestrados profissionais em segurança pública a partir dos resultados da avaliação de egressos da Pós-Graduação Profissional em Segurança Pública da Universidade Federal da Bahia. Para tanto, adotou-se o modelo de personalidade parentética, proposto por Alberto Guerreiro Ramos, para analisar a interação entre a universidade e campo profissional a partir de ex-alunos, entendidos como pesquisadores práticos. A pesquisa foi efetuada por meio de questionário de aplicação ampla enviado, por e-mail, a todos os alunos que concluíram o curso no período de 2013 a 2020. Os resultados, com 40 respondentes, sugerem que estes estão mais conscientes do papel social de sua profissão, apresentam maior competência em pensar de forma crítica sua realidade profissional, analisar o ambiente interno e externo de suas organizações e tomar decisões com potencial de impacto.  

Palavras-chave: Avaliação de egressos. Impactos do Mestrado Profissional. Personalidade parentética.

ABSTRACT

COMPETENCIES AND IMPACTS OF THE PROFESSIONAL MASTER'S: THE CASE OF THE PROFESSIONAL POSTGRADUATE PROGRAM IN PUBLIC SECURITY AT THE FEDERAL UNIVERSITY OF BAHIA

The article discusses the competences and impacts of professional master's degrees in public security based on the results of the evaluation of graduates of the Professional Post-Graduation in Public Security at the Federal University of Bahia. For this, the parenthetical personality model, proposed by Alberto Guerreiro Ramos, was adopted to analyze the interaction between the university and the professional field through the graduates, understood as practical researchers. The survey was carried out by means of a broad application questionnaire sent, by e-mail, to all students who completed the course in the period from 2013 to 2020. The results, with 40 respondents, suggest that they are more aware of the social role of their profession, have greater competence in thinking critically about their professional reality, analyzing the internal and external environment of their organizations and making decisions with potential impact.

Keywords: Graduate’s evaluation. Impacts of the Professional Master’s. Parenthetical personality.

Data de recebimento: 26/04/2021 - Data de aprovação: 06/09/2021

DOI: 10.31060/rbsp.2022.v16.n0.1503

INTRODUÇÃO

O presente artigo aborda o processo de avaliação de egressos dos programas de pós-graduação profissionais, a partir da análise da experiência do Mestrado Profissional em Segurança Pública, Justiça e Cidadania (MPSPJC) do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública (PROGESP), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O objetivo foi destacar e interpretar o perfil dos egressos do MPSPJC segundo a percepção que eles têm sobre sua experiência após o curso, levando em consideração as competências desenvolvidas e os possíveis impactos profissionais da formação sobre a sua atuação profissional e a sua vida pessoal.

A modalidade profissional acompanha a pós-graduação brasileira desde o início. O sistema nacional de pós-graduação foi definido pelo Parecer Sucupira – Parecer CFE Nº 977/19652 –, aprovado em 3 de dezembro de 1965, logo depois foi homologado, na vigência da Lei Nº 4.0243, de 1961, responsável por fixar as diretrizes e bases da educação nacional. Além do incentivo para o desenvolvimento científico e a formação de professores para as universidades, o documento chamou atenção para a necessidade de atender as demandas de qualificação surgidas do processo de desenvolvimento nacional, com a promoção de uma formação de ponta para técnicos e profissionais de todos os setores. Desta forma, pode ser considerado não somente o marco da pós-graduação brasileira, como também o primeiro dispositivo a tratar oficialmente da modalidade profissional dentro da pós-graduação.

De lá pra cá, a pós-graduação foi bem sucedida na formação de professores universitários e na produção de conhecimento científico. Porém, o sistema definido em 1965 se distanciou da demanda de qualificação profissional que só ganhou força a partir da década de 1990, quando a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com a Portaria Nº 47, de 17 de outubro de 1995, retomou a modalidade profissional ao nível dos mestrados.

Na prática, entretanto, só foram aprovadas propostas de mestrados profissionais no começo dos anos 2000 (BARATA, 2020). Este foi o contexto em que surgiu o MPSPJC. Aprovado pela CAPES, em 2010, por meio do parecer APCN Nº 1998/2010, o curso nasceu como uma iniciativa fortemente interdisciplinar resultante da reunião de esforços de docentes e pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ligados pelo interesse no estudo de fenômenos da segurança pública e vindos de diferentes campos de saberes, distintas unidades de ensino, programas e/ou núcleos de pesquisa. Sua gestão, compartilhada entre a Escola de Administração (EA/UFBA) e a Faculdade de Direito (FD/UFBA), é representada pelo PROGESP, que em 2005 foi pioneiro na execução da Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (RENAESP), com a oferta de cursos de especialização profissional que serviram de pressuposto para a recepção do mestrado no corpo do programa.

O MPSPJC divide-se, fundamentalmente, em três linhas de pesquisa e formação: Políticas e Gestão em Segurança Pública; Direitos Humanos, Justiça e Cidadania; e Vitimização, Sistema Prisional e Criminalidade. A primeira linha reúne estudos dedicados à ação e ao papel do Estado na preservação da ordem pública, em conformidade com o estado democrático de direito e os preceitos de eficácia e eficiência da ação pública. A segunda linha, por sua vez, concentra pesquisas em torno da cooperação e da integração sistêmica entre instituições de segurança pública e justiça com vistas à construção, efetivação e ampliação da cidadania e dos direitos humanos. Por fim, a terceira linha, tem a sua atenção voltada para o estudo dos diferentes atores e aspectos do fenômeno da criminalidade na sociedade contemporânea.

As linhas se complementam e expressam juntas a compreensão de que a segurança e a justiça são indissociáveis. No conjunto, elas apontam para o objetivo de formar profissionais capazes de realizar uma leitura sistemática das relações entre instituições, segurança, justiça, direitos, criminalidade e violência. Ou seja, formar quadros estratégicos preparados para analisar fenômenos criminais e de violência e identificar elementos básicos das dinâmicas interna e externa das instituições de segurança, na perspectiva de intervir em prol da eficiência e eficácia dos serviços prestados.

Tal objetivo de formação é compatível com o ideal dos mestrados profissionais. Estes cursos atendem à exigência da sociedade atual por uma formação qualificada que não se restrinja aos domínios da carreira universitária e contemple setores empresariais e de ensino que necessitam de um perfil diferente do pesquisador acadêmico (PAIXÃO; BRUNI, 2013). Nesse sentido, os mestrados profissionais atendem a uma demanda oriunda do mundo do trabalho e apesar de promoverem uma formação de tipo profissional estão em paralelo ao conhecimento de natureza operacional ou funcional, pois não se resumem à oferta de simples curso de qualificação. Sua finalidade é formar pesquisadores práticos, dotados de habilidades e competências para conhecerem sistematicamente sua atividade, aperfeiçoá-la ou corrigi-la em seus defeitos e insuficiências.

A pesquisa dos mestrados profissionais é ligeiramente diferente da pesquisa dos mestrados acadêmicos. A pesquisa acadêmica orienta-se pela teorização e é a atividade de teorização que a define como acadêmica (ANDRÉ, 2017). A parte empírica é indispensável e cumpre um papel de intermediação entre o conhecimento sistemático já obtido e aquele alcançado pelas pesquisas então em curso ou conclusas. A parte principal da atividade científica, porém, é teórica. A teoria permeia todo o processo de investigação, desde o início, na delimitação da questão de partida e definição dos métodos e técnicas de investigação, até o fim, na análise dos dados e na interpretação dos resultados.

Na pesquisa profissional a situação é um pouco diferente. Ela tanto parte como almeja o universo empírico. Parte dele porque de lá retira seus problemas, que são problemas reais, relacionados com aspectos de um setor prático da realidade empírica, reformulados como problemas científicos que exigem uma solução igualmente prática. Tanto a teoria como a empiria cumprem um papel intermediário. A empiria cumpre o papel convencional de evidência, enquanto a teoria funciona como um meio de elucidação dos problemas práticos, em suas implicações e seus desdobramentos. A pesquisa move-se dessa maneira em direção à elaboração e análise de alternativas de intervenção que ao fim da investigação são prescritas, às margens de qualquer teoria, como soluções ad-hoc. Assim, ela almeja o universo empírico, não no sentido da compreensão desinteressada, como ocorre na pesquisa acadêmica, mas de sua alteração, de acordo com determinados valores institucionais. Desta forma, as pesquisas profissionais podem ser vistas como pesquisas “engajadas” e é exatamente essa característica que as definem como pesquisas profissionais não-acadêmicas (ANDRÉ, 2017).

O tipo de conhecimento produzido pelo pesquisador prático certamente chama a nossa atenção para as diferenças entre o mestrado acadêmico convencional e o mestrado profissional. Contudo, apesar das diferenças, ambos os tipos de pesquisa são, antes de mais nada, o aprofundamento do pensamento crítico alicerçado em conhecimento metodológico. É por essa razão que a pesquisa profissional localiza-se no mestrado. O mestrado profissional é mestrado antes de ser profissional, até porque na esfera profissional já existem muitas opções satisfatórias de qualificação. O saber pesquisar com rigor, contudo, é exatamente o diferencial oferecido pelos mestrados profissionais em comparação com outras espécies de cursos profissionais (STREHLAU, 2020).

O conhecimento obtido pela pesquisa profissional realizada no âmbito dos mestrados profissionais cria alternativas de solução de problemas práticos que vão além de simples soluções gerenciais. São alternativas reflexivas que induzem à prática reflexiva, tornando possível o aprendizado a partir dos desafios do ambiente de trabalho. As pesquisas profissionais, dessa maneira, estimulam o desenvolvimento de uma cultura de aprendizado e de proatividade dentro das organizações, trazendo abordagens criativas e profícuas para a solução de seus impasses. É exatamente neste ponto que reside o seu valor.

Metodologia

A avaliação na perspectiva dos egressos foi operacionalizada por meio de questionários de aplicação ampla, via e-mail, com os alunos que concluíram o MPSPJC, entre o período de 2013 a 2020. Como afirmam Dazzani e Lordelo (2012), egressos são sujeitos especialmente importantes para compreendermos como os programas e as políticas educacionais se articulam com a sociedade. Neste sentido, a nossa intenção foi examinar a qualidade da formação oferecida, os efeitos do curso sobre o desenvolvimento pessoal e profissional e os eventuais impactos gerados direta e/ou indiretamente pelo mestrado por meio de seus ex-alunos. Os endereços de e-mails foram obtidos no banco de dados dos alunos do PROGESP, disponibilizado pela coordenadora do programa.

O questionário foi enviado a todos os egressos, totalizando 150 indivíduos. Contudo, apenas 40 responderam. No geral, este número pode ser compreendido pelas dificuldades específicas sofridas pelas pesquisas de avaliação de egressos no Brasil (DAZZANI; LORDELO, 2012). A cultura de acompanhamento de egressos pelas universidades ainda é bastante incipiente, especialmente quando comparada à dos Estados Unidos, onde pesquisas deste tipo datam de 1930, enquanto no Brasil só vieram ganhar preponderância a partir de 2006 (NISHIMURA, 2015).

Essa incipiência geral das pesquisas com egressos foi refletida em nossa pesquisa. Em primeiro lugar, foi difícil localizar os ex-alunos, pois muitos endereços de e-mail estavam desatualizados. O banco de dados disponível não foi pensado para o acompanhamento contínuo de egressos e sim para o acompanhamento deles enquanto alunos do curso, o que nos criou um obstáculo ao diminuir a extensão do número de potenciais respondentes. Em segundo lugar, verificou-se a relutância dos egressos em dispor de tempo e oferecer informações sobre suas vidas. Nem todos os egressos que receberam o e-mail colaboraram, indisposição que ficou evidente na resposta de um ex-aluno pedindo aos responsáveis pelo PROGESP a retirada de seu endereço de e-mail da lista de contatos, fato que tipificou a natureza dessa segunda dificuldade.

Apesar desses obstáculos, a partir dessa amostra de 40 respondentes, podemos visualizar os efeitos do programa sobre os egressos por não ter havido distorções no envio dos questionários. Turma alguma foi privilegiada em detrimento de outra. Das setes turmas do MPSPJC, de 2013 a 2020, todos os egressos que tínhamos o contato receberam o e-mail com o questionário e puderam assim dar a sua opinião sobre o programa. Metaforicamente, estes 40 egressos podem ser vistos como membros de uma turma “experimental” composta por indivíduos que passaram pelo curso em diferentes momentos de sua trajetória institucional.

O questionário teve um total de 42 perguntas e foi estruturado de modo a evidenciar as competências adquiridas pelo egresso ao longo do curso e a percepção do impacto profissional exercido em suas respectivas instituições. O instrumento foi composto em grande medida por questões escalonadas e organizado nos seguintes tópicos: (1) identificação; (2) formação de competência geral; (3) formação de competências específicas; (4) funcionamento do curso; (5) desenvolvimento pessoal e profissional; (6) impacto e caráter inovador da produção intelectual; e por fim um último tópico dedicado a (7) sugestões.

Competências gerais e personalidade parentética

Dos egressos que responderam ao questionário, há concentração na faixa etária entre 31 e 50 anos. São majoritariamente graduados em Direito (67% das respostas), com a maioria permanecendo na instituição em que estava quando entrou no curso (85%) e atuando nela há mais de 5 anos, sendo que grande parte permanecia na mesma instituição entre 16 e 25 anos (45%).

A origem dos egressos reflete a diversidade institucional que compõe o sistema de segurança pública. 40% são membros das polícias: 17,5% da Polícia Militar da Bahia (PMBA); 12,5% da Polícia Civil da Bahia (PCBA); 5% da Polícia Técnica da Bahia (PTBA); e mais 5% da Polícia Federal (PF). São seguidos por 27,5% de membros do Ministério Público; 15% do Tribunal de Justiça da Bahia; e demais instituições somando 17,5% do total de respondentes.

O conceito de competência utilizado neste trabalho consiste numa interpretação do modelo de “homem parentético” proposto pelo sociólogo Alberto Guerreiro Ramos (1984). Segundo Ramos, o homem parentético é um tipo de indivíduo que possui uma consciência crítica altamente desenvolvida das premissas de valor presentes na vida cotidiana e capaz, pela imaginação, de pôr em parênteses o imediatismo do fluxo de trabalho, a fim de examinar o núcleo racional de convenções, hábitos e costumes assimilados de forma irrefletida dentro das organizações.

Ramos (1984) argumenta em favor do caráter duplo da noção de racionalidade. Além da clássica racionalidade instrumental, relacionada com a coordenação entre meios e fins, ele afirma existir um segundo tipo denominado de racionalidade noética ou substantiva. Ela é definida como o atributo natural do ser humano que reside na psique (SERVA, 1997) e que o orienta para a sua autorrealização dentro das diversas esferas da sociedade. Nesse sentido, o comportamento que ocorre dentro das organizações é uma manifestação particular da racionalidade noética, a partir da qual os indivíduos tentam conciliar a busca de autorrealização com o esforço de dotar o seu trabalho de significado e sentido diante da sociedade.

Para Ramos (1984) o homem parentético está eticamente comprometido com valores que conduzem ao primado da razão noética na vida social e privada. Apesar de depender de expertises técnicas, o conhecimento do homem parentético é originalmente crítico. Saber fazer algo é pressuposto indispensável ao exercício crítico no espaço organizacional. Mas é somente por meio da crítica que são evidenciadas as condições de possibilidade para a consecução prática, e não apenas retórica, das finalidades institucionais. Sujeito criativo, que não se perde em fantasias, crítico, sem ser impertinente, e influente, sem ser subversivo, o homem parentético não obedece cegamente aos padrões de desempenho, antes, busca neles o que há de significativo para, com base nesses significados, influenciar o seu ambiente de trabalho.

Do ponto de vista organizacional, o homem parentético apresenta-se como um modelo de personalidade interessante de ser estimulado e desenvolvido, pois contribui para a redução do grau de insulamento burocrático das organizações, tornando-as mais responsivas. Mas como estimulá-lo e desenvolvê-lo? A resposta pode ser encontrada no ideal de formação adotado pelos mestrados profissionais. O homem parentético corresponde ao ideal do pesquisador prático, isto é, a pesquisa profissional, tal como discutida anteriormente, é um meio de expressão desse tipo de personalidade racional e ética.

Neste artigo, quando falamos em competências, estamos nos referindo ao conjunto de habilidades de um indivíduo parentético no papel de pesquisador prático. A personalidade parentética divide-se em um nível geral e outro específico. O nível geral pode ser caracterizado pelos atributos de consciência do papel social da profissão, criticidade, analiticidade e engajamento. Para os fins deste artigo, estão compreendidos no nível específico o domínio de conteúdos relacionados à segurança pública e à capacidade de manejar procedimentos de pesquisa empírica e a aplicação prática do conhecimento. O nível específico da personalidade parentética é então o papel que o indivíduo assume como pesquisador prático. Ao falarmos em pesquisador prático, portanto, pressupomos qualidades parentéticas de fundo e competências específicas de pesquisa, elaboração e uso do conhecimento.

Numa consulta aos portais das instituições parceiras do MPSPJC, mencionadas anteriormente, verificou-se que todas elas estão comprometidas com os valores do estado democrático de direito e com a excelência de seus respectivos serviços (Quadro 1). Ou seja, tais instituições estão comprometidas com valores socialmente responsivos e podemos dizer que elas estão atentas ao primado da racionalidade noética, no mínimo discursivamente.

Quadro 1 – Finalidades Institucionais

Instituição Missão Visão Valores
Secretaria de Segurança Pública da Bahia Preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio. Ser reconhecida nacionalmente, até 2025, pela excelência da qualidade dos serviços de segurança pública cidadã e pela efetiva contribuição para a redução dos índices de criminalidade. Servir e proteger; Respeito à vida, à Cidadania e aos Direitos Humanos; Honestidade; Integração; Coragem; Aprimoramento técnico profissional; Ética; Tradição; Responsabilidade social; Tecnicidade.
Polícia Federal Exercer as atribuições de polícia judiciária e administrativa da União, a fim de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o estado democrático de direito. Tornar-se referência mundial em Ciência Policial. Coragem; Lealdade; Ética e Probidade; Respeito aos Direitos Humanos.
Ministério Público da Bahia Defender a sociedade e o regime democrático para a garantia da cidadania plena. Ser reconhecido como uma instituição de excelência, indutora do respeito aos direitos fundamentais e aos interesses sociais. Compromisso; Dedicação; Determinação; Unidade; Respeito.
Tribunal de Justiça da Bahia Assegurar o acesso à justiça visando a paz social. Efetividade na prestação jurisdicional e garantia dos direitos de cidadania. Acessibilidade; Agilidade; Celeridade; Eficiência; Ética; Probidade; Independência; Modernidade; Transparência; Responsabilidade socioambiental.

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Em sequência, no Gráfico 1, temos a informação de que a maioria dos egressos respondentes apresentou plena consciência dos valores de cidadania sustentados por suas respectivas instituições e das expectativas sociais em torno de seu papel profissional.

Gráfico 1 – Item: Após o término do curso sinto-me mais consciente do papel social de minha profissão

[CHART]
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Por sua vez, o Gráfico 2 apontou para o fato de que a maioria dos egressos respondentes se sente mais preparada para pensar de forma crítica após a conclusão do curso.

Gráfico 2 – Item: Após o curso houve melhoria em minha capacidade de pensar de forma crítica

[CHART]
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Atento ao primado da racionalidade substantiva e do predomínio da ética, o homem parentético tem o privilégio de julgar a organização, colocando-a em “parênteses” ou em “suspensão”. Nesse sentido, conscientes do papel social de suas respectivas instituições e munidos do aumento da capacidade crítica, a maioria dos egressos do MPSPJC considera relevante a racionalização de métodos e a atualização de práticas (Gráfico 3) e também a atualização de imagem e valores dentro de suas instituições (Gráfico 4), visando torná-las mais eficientes, eficazes e responsivas.

Gráfico 3 – Item: Considero relevante a racionalização de métodos e a atualização de práticas dentro da minha instituição de trabalho

[CHART]
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Gráfico 4 – Item: Considero relevante uma atualização de imagem e valores dentro da minha instituição de trabalho

[CHART]Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Para o juízo objetivo das organizações, a analiticidade é requisito imprescindível. O Gráfico 5 aponta para o fato de que a maioria dos 40 respondentes teve uma expressiva melhoria tanto na capacidade de analisar situações institucionais, administrativas e operacionais, integrantes do ambiente interno das organizações, quanto de analisar cenários políticos e sociais que configuram seu ambiente externo.

Gráfico 5 – Item: Após o curso foi ampliada minha capacidade de analisar situações institucionais, administrativas e operacionais e cenários políticos e sociais

[CHART]
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Além do seu valor intrínseco, a analiticidade pode ser considerada também como um meio indireto de comprovação do aumento de criticidade, uma vez que o pensamento crítico demanda raciocínios válidos e bem fundamentados. A razão para melhoria dessa forma de pensar, crítica e analítica, ter sido questionada, não antes, mas após o curso, está no fato de que competências mentais não podem ser aprendidas em abstrato e depois aplicadas a qualquer assunto, pois elas são em grande medida específicas a determinado domínio do conhecimento (HANSSON, 2019). Assim, é possível dizer que há um tipo específico de pensamento científico sobre a segurança pública que pode ser encontrado no perfil de formação do MPSPJC. A hipótese aqui aventada é a de que esse perfil encontra-se estruturado de acordo com as linhas de pesquisa do curso. Nesse sentido, questionou-se aos egressos acerca de sua capacidade de interpretação de dilemas e perspectivas em torno do conteúdo de cada uma dessas três linhas (Tabela 1).

Tabela 1– Item: Após o curso foi ampliada a minha capacidade de interpretação dos dilemas e perspectivas em:

Temas Concordância plena (%) Concordância (%) Indiferença (%) Discordância (%) Discordância plena (%)
Democracia e garantia de direitos 55 32,5 12,5 - -
Criminalidade, violência e métodos de prevenção e controle 60 35 5 - -
Políticas de Segurança Pública 60 40 - - -

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Como pode ser visto na Tabela 1, os egressos avaliam positivamente o perfil de formação adquirida. A maioria afirma sentir maior domínio de assuntos específicos da área de segurança pública. Não houve discordâncias ou indiferenças sobre o aumento da compreensão de dilemas e perspectivas em torno das políticas públicas de segurança, porém, observa-se 5% de indiferença em relação às temáticas de criminalidade, violência e métodos de prevenção; e 12,5% de indiferença no que diz respeito aos temas relacionados à democracia e à garantia de direitos, o que chama a atenção para a relativa fragilidade desta última linha comparada às demais no corpo do MPSPJC.

Competências específicas do papel de pesquisador prático e impactos no contexto profissional do egresso

Os problemas organizacionais detectados pelo julgamento da organização podem ser convertidos em objetos de pesquisa profissional que visa atingir um tipo de conhecimento que capacita a compreensão e a intervenção numa determinada realidade profissional. É exatamente neste momento que o indivíduo parentético deixa de ser meramente crítico e assume o papel de pesquisador prático. Neste ínterim, ele demonstra a reciprocidade entre competências gerais, para se chegar a uma opinião, e competências específicas de pesquisa, ambas, de um lado, desenvolvidas, de outro, adquiridas, durante o processo de formação no mestrado profissional.

Gráfico 6 – Item: Após o curso houve melhoria em minha capacidade de utilizar metodologias de trabalho/pesquisa empírica

[CHART]Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

O Gráfico 6 apontou para o fato de que a maioria dos egressos se sente mais capacitada para pensar e usar metodologias de trabalho e de pesquisa empírica, o que é requisito fundamental para pesquisas científicas de qualquer espécie, além de ser o diferencial de formação oferecido pelos mestrados profissionais.

Já a Tabela 2 traz informações relativas ao impacto profissional do curso e suas dimensões estão sucessivamente ligadas entre si.

Tabela 2 – Habilidades de engajamento e impacto no contexto profissional

Após o curso Concordância plena (%) Concordância (%) Indiferença (%) Discordância (%) Discordância plena (%)
Capacidade de relacionar as temáticas do curso com a realidade profissional 55 42,5 2,5 - -
Influência do conteúdo teórico do curso sobre a atividade profissional 45 55 - - -

Aumento na capacidade de interpretação dos dilemas e perspectivas em torno da resolução de conflitos no

ambiente profissional

50 50 - - -
Aumento na capacidade de tomar decisões e resolver problemas 57,5 32,5 10 - -
Aumento da performance em trabalhos de equipe e elaboração de projetos de intervenção: planejamento, organização, comunicação e liderança 50 42,5 5 2,5 -

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Como pode-se observar, a maioria dos egressos declara ser capaz de relacionar as temáticas do curso com sua realidade profissional – somando 97,5% – e afirma que a formação teórica proporcionada pelo mestrado exerceu influência sobre a sua atividade profissional, não havendo discordância ou indiferenças. Com isso, nota-se um aumento entre os respondentes da capacidade de interpretar dilemas e perspectivas em torno da resolução de conflitos no ambiente profissional: 50% estão de pleno acordo, enquanto os demais 50% apenas concordam. Uma maior competência para a tomada de decisões e de resolução de problemas, 90% de concordância, e por conseguinte um aumento da performance em trabalhos de equipe e na elaboração de projetos de intervenção, atingindo 92,5% de concordância.

Acerca da produção intelectual dos egressos, de acordo com o Gráfico 7, grande parte considera que seus respectivos trabalhos finais de conclusão de curso têm potencial de impacto profissional (28), social (24), educacional (11), cultural (7) e econômico (5), além de outros tipos de impactos (4), como ambiental, urbanístico, institucional, etc.

Gráfico 7 – Item: Meu trabalho final de conclusão de curso, projeto de intervenção ou dissertação, tem potencial de impacto(s)...

[CHART]
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Também foi afirmado pela maioria dos respondentes ter havido experiências inovadoras no seu contexto profissional em decorrência das reflexões e investigações feitas durante o curso (Gráfico 8). Apenas 3 disseram que não, e 9 expressaram alguma dúvida, assinalando a resposta “talvez”.

Gráfico 8 – Item: Houve experiências inovadoras em seu contexto profissional a partir das reflexões e investigações feitas durante o curso?

[CHART]
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Outra maneira de examinar o impacto profissional do curso sobre os egressos foi questionar sobre sua produção intelectual de natureza técnica-tecnológica. Usamos a definição de produto técnico-tecnológico adotada pela CAPES. Ela o define como um “objeto tangível” resultante da aplicação de conhecimentos científicos ou expertises e usados diretamente na solução de problemas institucionais e organizacionais (CAPES, 2019). Podemos perceber uma compatibilidade entre esse conceito e o resultado esperado da pesquisa profissional, discutida anteriormente. Tal definição foi incorporada no item do questionário para que não houvessem confusões em torno do sentido do termo por aqueles que responderam. Como pode ser visto no Gráfico 9, 14 egressos respondentes desenvolveram produtos técnicos ou tecnológicos a partir de seus trabalhos finais ou de projetos científicos, após ou durante o curso, enquanto a maioria, composta por 26 respondentes, não desenvolveu.

Gráfico 9 – Item: Foi(ram) desenvolvido(s) produto(s) técnico(s) ou tecnológico(s) a partir do seu trabalho final, projeto de intervenção ou dissertação, ou de sua produção científica após ou durante o curso?


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Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

No Gráfico 10, por sua vez, observa-se que a maior parte dos egressos não foi contemplada com a implantação de quaisquer produtos ou serviços originados de sua produção intelectual, realizada durante ou após o curso, seja por instituições públicas, privadas ou do terceiro setor.

Gráfico 10 – Item: Houve implantação, por parte de instituições públicas, privadas ou do terceiro setor, de algum produto ou serviço originado da sua produção intelectual realizada durante ou após o curso?

[CHART]Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

As informações dos dados acima demonstram uma melhoria significativa nas competências gerais da personalidade parentética e nas competências específicas do pesquisador prático. Entretanto, o conhecimento engajado substantivado nos produtos técnicos-tecnológicos ainda parece esbarrar em questões estruturais concernentes às instituições nas quais os egressos atuam. Conclusão semelhante foi feita por Souza, Ramos e Pensador (2018) em estudo sobre o perfil dos egressos do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará. Segundo os autores, apesar de a maioria dos egressos daquela instituição fazer parte de instituições públicas de segurança do estado, como no caso da UFBA, os efeitos de sua atuação ainda eram pouco visíveis em razão dos desafios enfrentados pelo estado na consolidação de projetos efetivos nesta área. Diante dos dados informados pelo Gráfico 10, podemos atribuir a escassez de incentivos e oportunidades para a capitalização de recursos intelectuais disponíveis dentro das instituições de segurança pública como um possível fator que explica parte desses desafios enfrentados tanto no Pará como na Bahia.

Impactos no desenvolvimento pessoal e profissional do egresso

Além do impacto no ambiente de trabalho, a formação do MPSPJC também afetou o desenvolvimento pessoal e profissional dos egressos (Tabela 3).

Tabela 3 – Impactos pessoais e profissionais

Após o curso Concordância plena (%) Concordância (%) Indiferença (%) Discordância (%) Discordância plena (%)
Abertura de novas oportunidades profissionais 35 30 25 7,5 2,5
Valorização pessoal e profissional 42,5 32,5 22,5 - 2,5
Maior visibilidade dentro do espaço de trabalho 47,5 27,5 22,5 2,5 -
Renovação ou alteração de valores pessoais e profissionais 52,5 32,5 12,5 2,5 -

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Desta forma, os dados da Tabela 3 contrastam com a tendência de avaliação dos quadros anteriores. A maioria dos respondentes continua mantendo uma avaliação predominantemente positiva sobre o curso, porém, chama a atenção a percentagem de afirmações de indiferença. O destaque está nos quesitos Maior visibilidade dentro do espaço de trabalho e Valorização pessoal e profissional. Em ambos, o grau de indiferença é de 22,5%. Destaque também para o item Abertura de novas oportunidades profissionais, cujo grau de indiferença esteve em 22% e foi o único em que houve um grau de discordância relativamente elevado (7,5%).

Gráfico 11 – Autoria em publicações científicas

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Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

No que diz respeito à relação entre os egressos e o mundo acadêmico, o Gráfico 11 evidencia que dos 40 respondentes, 23 são autores de publicações científicas, como artigos em periódicos, livros completos ou organizados, capítulos de livros e trabalhos completos em anais. Contudo, 17 deles apenas são autores de suas dissertações. Este dado é inquietante. Não estando o universo das publicações científicas reduzido à divulgação de pesquisas acadêmicas, pesquisas profissionais, quando concluídas, merecem ser publicadas. Mas será que essas pesquisas continuam sendo realizadas pelos egressos após o curso?

Gráfico 12 – Item: Você está dando continuidade ao seu projeto de pesquisa, trabalho de conclusão de curso (dissertação ou projeto de intervenção) ou desenvolvendo algum trabalho acadêmico com tema relacionado ao curso?

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Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

O Gráfico 12 pode responder essa questão. A maioria continua realizando pesquisas (23), porém, um número considerável de respondentes (17) deixou o mundo da pesquisa, não dando continuidade nem ao projeto de sua dissertação, nem desenvolvendo algum trabalho acadêmico com tema relacionado ao curso.

Gráfico 13 – Item: Após o curso continuei a minha formação acadêmica/profissional em Instituições do Ensino Superior (IES)

[CHART]Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Já o Gráfico 13 aponta para o fato de que a maior parte dos egressos que responderam ao questionário não continuou a sua formação (25). Apenas 7 alunos seguiram para o doutorado. 6 fizeram cursos de especialização e 4 buscaram outra graduação.

As informações acerca do impacto do MPSPJC sobre o desenvolvimento pessoal e profissional dos egressos indicam a existência de uma tensão no que diz respeito à autorrealização do indivíduo em seu espaço de trabalho, reafirmando o que foi trazido no tópico relativo à produção técnica e tecnológica. Ou seja, mais uma vez, parece estarmos diante de limitações estruturais das instituições nas quais os egressos exercem a sua profissão.

Apesar de fugir do escopo deste trabalho, também é possível pensar que a não continuidade do aperfeiçoamento dos egressos como pesquisadores pode estar relacionada com a baixa oferta de doutorados profissionais no Brasil, especialmente na área de segurança pública. O doutorado é o caminho mais comum após o mestrado e a ausência dessa oferta pode interromper os planos de carreira do tipo de pesquisador – prático – discutido ao longo deste artigo. Tal situação revela uma lacuna entre demandas técnicas e o caminho da universidade, pois o conhecimento científico é recurso imprescindível para a melhoria dos serviços de segurança pública. A redução desses gaps, como é de se imaginar, não depende apenas do interesse do pesquisador (GALINDO, 2020). É necessário mecanismos de mediação e direcionamento de recursos apropriados para o desenvolvimento de pesquisas engajadas e inovadoras, não apenas no nível dos mestrados, mas também no nível dos doutorados e dos cursos de especialização.

Considerações finais

Os resultados sugerem existir uma colaboração profícua entre a Universidade Federal da Bahia e as instituições de segurança pública do estado, por meio do MPSPJC. Mostram que os respondentes estão mais conscientes do papel social de sua profissão, apresentam maior competência em pensar de forma crítica e em analisar os ambientes interno e externo de seu contexto profissional. Tais habilidades estiveram relacionadas com a percepção, por parte dos respondentes, de que é relevante para suas organizações tanto uma mudança ou renovação de imagem e valores, quanto a racionalização de seus métodos e suas práticas, visando a melhoria no desempenho de seus serviços. Os respondentes também informaram sentir um aumento na compreensão de dilemas e perspectivas em torno do campo da segurança pública. Tais características foram consideradas por nós, neste artigo, como dimensões do conceito de homem parentético, proposto pelo sociólogo Guerreiro Ramos, e que correspondem às competências mais gerais visadas pela formação profissional.

Somamos ao modelo de personalidade parentética, o conceito de pesquisador prático, sustentado como ideal dos mestrados profissionais no Brasil, e assim encaramos o indivíduo parentético como membro de uma organização e pesquisador. Noutras palavras, um cientista engajado. Por essa perspectiva, observou-se um aumento da proficiência metodológica dos respondentes e uma maior compreensão de sua realidade profissional proporcionada pelas reflexões e pesquisas desenvolvidas durante o curso. Isso resultou em uma maior capacidade de tomar decisões e elaborar projetos de intervenção, gerando experiências inovadoras em seu contexto profissional.

Entretanto, os resultados confirmaram que a maioria dos respondentes não desenvolveu produtos de natureza técnico-tecnológica. Apesar disso, foi expressivo o número daqueles que fizeram, não havendo grande disparidade. Contudo, a maior parte não conseguiu implantar tais projetos. Acrescido a isto, mesmo não formando maioria, boa parte dos respondentes confessou sentir indiferença quanto às oportunidades no trabalho que poderiam ter sido proporcionadas em razão de sua formação no MPSPJC, o que nos leva a crer existir limitações para o pesquisador de tipo prático junto às organizações contempladas neste estudo. Ainda no campo das limitações, os resultados mostraram que a maioria não continuou a formação acadêmica-profissional, e um número considerável não continuou com pesquisas. Assim, apesar da experiência no curso ter sido avaliada positivamente pelos seus egressos, ainda há desafios relacionados à exploração das potencialidades que a pós-graduação profissional pode oferecer, tanto por parte das universidades, como das instituições de segurança pública.

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