“A gente prende, a audiência de custódia solta”: narrativas policiais sobre as audiências de custódia e a crença na prisão

Authors

  • Maria Gorete Marques de Jesus Núcleo de Estudos da Violência da USP
  • Caren Ruotti Núcleo de Estudos da Violência da USP
  • Renato Alves Núcleo de Estudos da Violência da USP

DOI:

https://doi.org/10.31060/rbsp.2018.v12.n1.833

Keywords:

audiência de custódia, polícia, judiciário, prisão provisória

Abstract

A audiência de custódia consiste na apresentação do preso em flagrante em 24 horas diante do juiz para que ele decida a manutenção ou não da prisão, e passou a ser implementada em 2015 por ação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nos Tribunais de Justiça dos estados. Em São Paulo, essas audiências foram implementadas no Fórum Criminal da Barra Funda a partir de fevereiro de 2015. De acordo com o CNJ, tais audiências tinham por objetivo averiguar a necessidade da manutenção das prisões, avaliar a legalidade de tais detenções e se atentar para a violência policial e tortura possivelmente praticada contra presos. O principal argumento para adoção dessa audiência é a necessidade desencarceramento. Contudo, a sua implementação gerou controvérsias, sobretudo entre as organizações policiais. A Associação de Delegados de São Paulo chegou a mover uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contestando a aplicação dessas audiências. Policiais militares e civis dizem que tais audiências colaboram para o “aumento da impunidade”, “solta bandidos perigosos”, que quando preso diz que apanhou da polícia “o juiz solta”, dentre outras falas que demonstram a insatisfação desses policiais com relação as audiências de custódia. Analisando pesquisas já realizadas sobre as audiências de custódia, é possível perceber que a menção à tortura ou violência não motiva a soltura das pessoas presas, muito menos juízes parecem se importar tanto com essa questão. Na mesma medida, não parece que tais audiências soltam “geral” como aparece nas falas dos policiais. Então, por que tais narrativas circulam nas instituições policiais? Quais efeitos elas podem ter na dinâmica do trabalho policial e na relação da polícia com o Poder Judiciário?

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

Maria Gorete Marques de Jesus, Núcleo de Estudos da Violência da USP

Pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV/USP). Doutora pelo Programa de Pós-Graduação do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da USP. Licenciada e Graduada em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP). 

Caren Ruotti, Núcleo de Estudos da Violência da USP

Doutora pelo Programa de Pós-Graduação do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Mestre em Sociologia pelo Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Graduada e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

Renato Alves, Núcleo de Estudos da Violência da USP

Possui graduação em psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo (1999), graduação em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (1999) e mestrado (2005) e doutorado (2013) em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo. Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP) e professor da Universidade Metodista de São Paulo. Tem experiência nas áreas de Psicologia, Sociologia, Direitos Humanos e Educaçao em Direitos Humanos.

References

ACOSTA, Fernando. De l’événement à l’infraction: Le processus de mise en forme pénale. Déviance et Société, v. 11, n. 1, p. 1-40, 1987.

AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli et al. Direitos e Garantias Fundamentais: Audiência de Custódia, Prisão Provisória e Medidas Cautelares: Obstáculos Institucionais e Ideológicos à Efetivação da Liberdade como Regra. Sumário Executivo. Brasília, DF: Conselho Nacional de Justiça, 2017.

BALLESTEROS, Paula R. Implementação das audiências de custódia no Brasil: análise de experiências e recomendações de aprimoramento. Brasília, DF: Ministério da Justiça/Departamento Nacional Penitenciário/PNUD, 2016a.

BALLESTEROS, Paula R. Audiências de custódia e prevenção à tortura: análise das práticas institucionais e recomendação de aprimoramento. Brasília, DF: Ministério da Justiça/Departamento Nacional Penitenciário/PNUD, 2016b.

BLANES, V. Denise; CERNEKA, Heidi Ann; JESUS FILHO, José de; MATSUDA, Fernanda Emy; NOLAN, Michael Mary (Coord.). Tecer Justiça:presas e presos provisórios na cidade de São Paulo. São Paulo: ITTC, 2012.

BRASIL. Lei nº 12.403, de 4 de maio de 2011. Altera dispositivos do Decreto Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, e dá outras providências.

CARLOS, Juliana. (Coord.). Prisões em flagrante na cidade de São Paulo. Instituto Sou da Paz: São Paulo, 2012.

CARLOS, Juliana. Política de drogas e encarceramento em São Paulo, Brasil. London: International Drug Policy Consortium, June 2015.

CONECTAS DIREITOS HUMANOS. Tortura blindada: Como as instituições do sistema de Justiça perpetuam a violência nas audiências de custódia. São Paulo: Conectas Direitos Humanos, 2017.

CONECTAS DIREITOS HUMANOS. Liberdade provisória e atuação da Defensoria Pública no Estado de São Paulo: análise empírica de processos. São Paulo: Conectas Direitos Humanos, 2012.

GARLAND, David. A cultura do controle. Rio de Janeiro: Revan, 2006.

IDDD. Instituto de Defesa do Direito de Defesa. Monitoramento das audiências de custódia em São Paulo. São Paulo: IDDD, 2016.

IDDD. Instituto de Defesa do Direito de Defesa. Monitoramento das audiências de custódia em São Paulo. São Paulo: IDDD, 2016.

NSTITUTO SOU DA PAZ. O impacto da lei das cautelares nas prisões em flagrante na cidade de São Paulo, 2014. São Paulo: Instituto Sou da Paz, 2014.

JESUS, Maria Gorete Marques de. “O que está no mundo não está nos autos”: a construção da verdade jurídica nos processos criminais de tráfico de drogas. Tese (Doutorado em Sociologia)–Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

JESUS, Maria Gorete Marques de; OI, Amanda H.; ROCHA, Thiago T. da; LAGATTA, Pedro. Prisão provisória e lei de drogas: um estudo sobre os flagrantes de tráfico de drogas na cidade de São Paulo. São Paulo: Núcleo de Estudos sobre Violência, 2011.

LEMGRUBER, Julita; FERNANDES, M., CANO, I.; MUSUMECI, L. Usos e abusos da prisão provisória no Rio de Janeiro: avaliação do impacto da Lei 12.403/2011. Rio de Janeiro: Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, 2013.

LEMGRUBER, Julita; FERNANDES, M. Impacto da assistência jurídica a presos provisórios: um experimento na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, 2011.

MARTINS, Herbert Toledo; VERSIANI, Dayane Aparecida; BATITUCCI, Eduardo Cerqueira. A polícia prende, mas a Justiça solta. Revista Brasileira de Segurança Pública, São Paulo, ano 5, ed. 8, p. 106-121, 2011.

MATSUDA, Fernanda Emy. A centralidade da prisão provisória na gestão dos ilegalismos. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 39., 2015, Caxambu. GT 42 - Violência, criminalidade e punição no Brasil. Caxambu: Anpocs, 2015.

SANTOS, R. et al. Excesso de prisão provisória no Brasil: um estudo empírico sobre a duração da prisão nos crimes de furto, roubo e tráfico (Bahia e Santa Catarina, 2008-2012). Brasília, DF: Ministério da Justiça/Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL); IPEA, 2015. (Série Pensando o Direito, 54).

VASCONCELOS, Fernanda Besteti; AZEVEDO, Rodrigo G. O Campo Jurídico e a Demanda Punitiva: uma análise sociológica das decisões sobre prisão preventiva no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. In: MOSTRA DE PESQUISA DA PÓS-GRADUAÇÃO, 3., 2008, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: PUCRS, 2008.

WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

ZACKSESKI, Cristina. O problema dos presos sem julgamento no Brasil. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2010. p. 88-99.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. O inimigo no direito penal. Rio de Janeiro: Revan, 2007

Published

2018-12-23

How to Cite

DE JESUS, Maria Gorete Marques; RUOTTI, Caren; ALVES, Renato. “A gente prende, a audiência de custódia solta”: narrativas policiais sobre as audiências de custódia e a crença na prisão. Revista Brasileira de Segurança Pública, [S. l.], v. 12, n. 1, p. 152–172, 2018. DOI: 10.31060/rbsp.2018.v12.n1.833. Disponível em: https://revista.forumseguranca.org.br/rbsp/article/view/833. Acesso em: 23 nov. 2024.