Mensurando a violência e o crime: potencialidades, vulnerabilidades e implicações para políticas de segurança pública

Autores

  • Luís Felipe Zilli Fundação João Pinheiro (FJP/MG) Núcleo de Estudos em Segurança Pública (NESP/FJP)

DOI:

https://doi.org/10.31060/rbsp.2018.v12.n1.892

Palavras-chave:

Segurança Pública, Mensuração do Crime, Estatísticas Criminais, Políticas Públicas

Resumo

A existência de dados precisos e confiáveis é condição básica para a formulação de políticas públicas. Especialmente na área da Segurança Pública, tal questão adquire centralidade ainda maior, uma vez que, para além das categorias legais empregadas para definir condutas penalizáveis, os próprios instrumentos e mecanismos utilizados para produzir informações acabam, em muitos sentidos, determinando visões acerca dos fenômenos criminais e condicionando as respostas que o Estado oferece a eles.

Dentro deste contexto, o presente artigo tem como objetivo analisar as principais aplicações e potencialidades, bem como os maiores limites e fragilidades, de três diferentes tipos de fontes de informações costumeiramente utilizadas pela área de segurança pública: (1) registros administrativos e estatísticas oficiais, (2) surveys de vitimização e (3) pesquisas de autorreportagem. Apresenta-se aqui um breve panorama da utilização de tais instrumentos no Brasil, bem como uma análise sobre as vantagens e limitações de tais instrumentos para a produção de conhecimento sobre os fenômenos da violência e da criminalidade.

De modo geral, observam-se no Brasil três entraves para a produção de conhecimento mais consistente na área da Segurança Pública: (1) a baixa qualidade e confiabilidade dos registros administrativos e das bases de dados oficiais; (2) baixo grau de integração entre os sistemas de informação mantidos pelas organizações que compõem o sistema de justiça criminal; (3) a não assimilação, por parte do poder público, de instrumentos alternativos como surveys de vitimização e pesquisas de autorreportagem como mecanismos que possibilitam o controle de qualidade dos dados oficiais e, ao mesmo tempo, servem de insumos para a formulação e a avaliação de políticas públicas. Tais questões não apenas prejudicam sensivelmente a compreensão mais adequada e sofisticada dos problemas de segurança pública que assolam o país, como também fomentam a emergência e a continuidade de políticas públicas reativas, fragmentadas e pouco eficazes na maioria dos estados brasileiros.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Luís Felipe Zilli, Fundação João Pinheiro (FJP/MG) Núcleo de Estudos em Segurança Pública (NESP/FJP)

Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador em ciência e tecnologia da Fundação João Pinheiro (FJP/MG). Dentro da instituição, é vinculado à Diretoria de Políticas Públicas (DPP) e ao Núcleo de Estudos em Segurança Pública (Nesp).

Referências

ANSELIN, Luc et al. Spatial Analysis of Crime. Criminal Justice, vol. 4, n. 2, 2000, p. 213-262.

BATITUCCI, Eduardo Cerqueira. As limitações da contabilidade oficial de crimes no Brasil: o papel das instituições de pesquisa e estatística. São Paulo em Perspectiva, vol. 21, n. 1, 2007, p. 7-18.

BEATO, Cláudio. Fontes de dados policiais em estudos criminológicos: limites e potenciais. Fórum de debates IPEA, 2000.

BEATO, Cláudio. Gestão da Informação. In: SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, Coleção Segurança com Cidadania: sistemas de informação, estatísticas criminais e cartografias sociais. Brasília, 2009.

BENNETT, Richard R.; LYNCH, James P. Does a difference make a difference? Comparing crossnational crime indicators. Criminology, v. 28, n. 1, 1990, p. 153-181.

BRASIL. Lei 13.675, de 18 de junho de 2018. Disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, nos termos do § 7º do art. 144 da Constituição Federal; cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS); institui o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Brasília, DF, jun 2018.

CANTOR, David; LYNCH, James P. Self report surveys as measures of crime and criminal victimization. Criminal Justice, v. 4, n. 1, 2000, p. 85-138.

CLARK, John.; WENNINGER, E.P. Socioeconomic class and area as correlates of illegal behavior among juveniles. American Sociological Review, v. 27, n. 6, 1962, p. 826-834.

COSTA, Arthur Trindade; LIMA, Renato Sérgio. Segurança Pública. In: LIMA, Renato Sérgio; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli. Crime, Polícia e Justiça no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2014.

CRISP. Pesquisa sobre Violência nas Escolas: relatório técnico final. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2005.

CRISP; DATAFOLHA. Pesquisa Nacional de Vitimização – Relatório Técnico. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2013.

DENTLER, Robert A.; MONROE, Lawrence J. Social correlates of early adolescent theft. American Sociological Review, 1961, p. 733-743.

DUNAWAY, Gregory R.; CULLEN, Francis T.; BURTON Velmer S.; EVANS, T. David. The Myth of Social Class and Crime Revisited: an examination of class and adult criminality. Criminology, v. 38, n. 2, 2000, p. 589-632.

DURANTE, Marcelo Ottoni; JÚNIOR, Almir de Oliveira. A produção de estatísitcas e indicadores de seguranca pública no Brasil em perspectiva histórica e a criação do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC). In: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 6º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo. 2012.

ELLIOTT, Delbert S.; AGETON, Suzanne S. Reconciling race and class differences in self-reported and official estimates of delinquency. American Sociological Review, 1980, p. 95-110.

EMPEY, Lamar T.; ERICKSON, Maynard. Hidden delinquency and social status. Social Forces, v. 44, n. 4, 1966, p. 546-554.

FIGUEIREDO, Isabel A Gestão de informações e o papel da SENASP. Boletim de Análise Político Institucional, n. 11, 2017.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP). Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2012. São Paulo. 2012.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP). Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2016. São Paulo. 2016.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP). Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2017. São Paulo. 2017.

HOWARD, Gregory J., NEWMAN, Graeme, PRIDEMORE, William Alex. Theory, Method and Data in Comparative Criminology. Criminal Justice, v. 4, n. 4, 2000, p. 139-211.

ILANUD; INSTITUTO SOU DA PAZ O dia a dia na vida das escolas: violências autoassumidas. São Paulo, 1999.ILANUD. Pesquisa de Vitimização 2002 e Avaliação do PIAPS. São Paulo, 2002.

JOHNSTON, Lloyd D.; O’MALLEY, Patrick M. BACHMAN, Jerald G. National Survey Results on Drug Use from the Monitoring the Future Study. US Department of Health and Human Services, 1996

KAHN, Túlio. Medindo a criminalidade: um panorama dos principais métodos e projetos existentes. Fórum de Debates: Criminalidade, Violência e Segurança Pública no Brasil. 2000.

KANT DE LIMA, Roberto. A polícia da cidade do Rio de Janeiro, seus dilemas e paradoxos. Forense. 1995.

LEMGRUBER, Julita, MUSUMECI, Leonarda, RAMOS, Sílvia. Por que é tão difícil implementar uma política de segurança? Observatório da Cidadania, 2002, p. 46-54.

LIMA, Renato Sérgio de. Contando crimes e criminosos em São Paulo: uma sociologia das estatísticas produzidas e utilizadas entre 1871 e 2000. 205p. Tese de Doutorado – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2005.

LIMA, Renato Sérgio de. Produção da Opacidade: estatísticas criminais e segurança pública no Brasil. Novos Estudos, n. 80, 2008, p. 65-69.

MISSE, Michel. Sobre a acumulação social da violência no Rio de Janeiro. Civitas, v. 8, n. 3, 2008, p. 371-385.

MISSE, Michel. Crime, sujeito e sujeição criminal: aspectos de uma contribuição analítica sobre a categoria “bandido”. Lua Nova, n. 79, 2010.

MISSE, Michel. Sujeição criminal. In: LIMA, Renato Sérgio; RATTON, José Luiz; AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli. Crime, Polícia e Justiça no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2014.

MOSHER, Clayton J.; MIETHE, Terance D.; PHILLIPS Dretha M. The Mismeasure of Crime. Sage Publications, 2002.

PAIXÃO, Antônio Luiz. A Organização Policial numa Área Metropolitana. Dados, v. 25, n. 1, 1982, p. 63-85.

OBSERVATÓRIO DE FAVELAS. Caminhada de crianças, adolescentes e jovens na rede do tráfico de drogas no varejo do Rio de Janeiro, 2004-2006, 2006.

RAMOS, Silvia; MUSUMECI, Leonarda. Elemento suspeito: abordagem policial e discriminação na cidade do Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2004.

RIBEIRO, Ludmila Mendonça Lopes. Nem tudo que reluz é ouro: uma análise da qualidade dos dados do SINES PJC. In: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 6º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo. 2012.

SHERMAN, Lawrence W.; GOTTFREDSON, Denise C.; MCKENZIE, Doris L.; ECK, John; REUTER, Peter; BUSHWAY, Shawn D.. Preventing Crime: what works, what doesn’t, and what promising. Washington DC: US Department of Justice, Office of Justice Programs, 1998.

SINHORETTO, Jacqueline et al. A filtragem racial na seleção policial de suspeitos: segurança pública e relações raciais. In: Figueiredo, Isabel Seixas de; Baptista, Gustavo Camilo; Lima, Cristiane do Socorro Loureiro (Org.). Coleção pensando a segurança pública. Brasília: Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2014.

SHORT, James F.; NYE, F. Ivan.Extent of unrecorded juvenile delinquency: tentativeconclusions. Journal of Criminal Law, Criminologyand Political Science, v. 49, n. 4, 1958, p. 296-302.

THORNBERRY, Terrence P. & KROHN, Marvin D. The Self-Report Method for Measuring Delinquency and Crime. Criminal Justice, v. 4, n. 1, 2000, p. 33-83.

ZILLI, Luís Felipe; MARINHO, Frederico Couto; SILVA, Bráulio Figueiredo Alves da. Pesquisas de Vitimização. In: Crime, Polícia e Justiça no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2014.

ZILLI, Luís Felipe; COUTO, Vinícius Assis. Servir e Proteger: determinantes da avaliação pública sobre a qualidade do trabalho das polícias militares no Brasil. Sociedade & Estado, v. 32, n. 3, 2017, p. 681-700.

Downloads

Publicado

23-12-2018

Como Citar

ZILLI, Luís Felipe. Mensurando a violência e o crime: potencialidades, vulnerabilidades e implicações para políticas de segurança pública. Revista Brasileira de Segurança Pública, [S. l.], v. 12, n. 1, p. 30–48, 2018. DOI: 10.31060/rbsp.2018.v12.n1.892. Disponível em: https://revista.forumseguranca.org.br/rbsp/article/view/892. Acesso em: 23 nov. 2024.