Seriam os futuros policiais militares sujeitos liminares?
Uma crítica à abordagem processualista nos estudos sobre formação e identidade policial
DOI:
https://doi.org/10.31060/rbsp.2023.v17.n1.1484Palabras clave:
Formação policial, Identidade policial, Liminaridade, Representações sociais, Polícia MilitarResumen
Entre os estudos interessados no processo de formação dos profissionais de segurança pública no Brasil, é comum o diagnóstico sobre a influência que as escolas de formação e a prática policial possuem na construção da identidade policial. Neste universo, é inegável a importância assumida pela análise processual turneriana, dada a tendência em compreender os futuros policiais enquanto sujeitos liminares, cuja identidade profissional seria moldada, fundamentalmente, pelas escolas de formação e pelo saber prático das ruas. Apoiado em dados etnográficos construídos junto a candidatos à carreira de policial militar no Rio de Janeiro, sugiro que muito mais do que criar novas identidades, os espaços de formação e prática contribuem no sentido de reorganizar e complexificar representações e modelos simbólicos que, de certa forma, já estão presentes nos possíveis futuros policiais. A entrada na polícia marcaria muito mais uma continuidade do que uma ruptura com a vida civil prévia dos candidatos.
Descargas
Citas
ABRIC, J. C. Central System, Peripheral System: their Functions and Roles in the Dynamics of Social Representations. Papers on Social Representations – Textes sur Représentations Sociales, (1021- 5573), v. 2, n. 2, 1993, p. 75-78.
ALBERNAZ, E. “Deus e o Diabo na terra do sol”: visões de espaço público, ética profissional e moral religiosa entre policiais militares evangélicos do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) –Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
ALBERNAZ, E. Na fronteira entre o bem e o mal: ética profissional e moral religiosa entre policiais militares evangélicos cariocas. Caderno CRH, v. 23, n. 60, 2010, p. 525-539.
ALBERNAZ, E. Sobre legitimidade, produtividade e imprevisibilidade: seletividade policial e a reprodução da ordem social no plano de uma certa “política do cotidiano”. Confluências: Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito, v.17, 2015, p. 109-122.
ALBUQUERQUE, C. L.; MACHADO, E. P. Sob o signo de Marte: modernização, ensino e ritos da instituição policial militar. Sociologias, ano 3, no 5, 2001, p.214-237.
ALBUQUERQUE, C. L.; MACHADO, E. P. O batizado dos recrutas: trote, socialização acadêmica e resistência ao novo ensino policial brasileiro. Capítulo Criminológico, v. 31, n. 2, 2003, p. 101-127.
BARBOSA, A. R. Um abraço para todos os amigos: algumas considerações sobre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Niterói: UFF, 1998.
BATISTA, N. A violência do estado e os aparelhos policiais. Discursos Sediciosos (Rio de Janeiro), v. 4, 1997, p. 145-154.
BITTNER, E. Aspectos do Trabalho Policial. São Paulo: Edusp, 2003.
BRETAS, M. Ordem na Cidade. O exercício cotidiano da autoridade policial no Rio de Janeiro: 1907-1930. 1 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
BRITO, M. J.; PEREIRA, V. G. Socialização organizacional: a iniciação na cultura militar. Revista de Administração Pública, v. 30, n. 4, 1996, p. 138-165.
CARUSO, H.; PATRÍCIO, L.; PINTO, N. M. Da escola de formação à prática profissional: um estudo comparativo sobre a formação de praças e oficiais da PMERJ. In: SENAP, ANPOCS. Segurança, justiça e cidadania: pesquisas aplicadas em segurança pública. Brasília/DF: Senasp; Anpocs, ano II, n. 4, p. 101-118, 2010.
CASTRO, Celso. O espírito militar: um antropólogo na caserna. 2a ed. revista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
CORTES, V. A.; MAZZURANA, L. Atualização curricular do CFSd: contribuições para a gestão educacional na área da segurança pública. Cadernos de Segurança Pública, ano 7, n. 6. Rio de Janeiro: Instituto de Segurança Pública, 2015.
COSTA, C. E. O. Direitos Humanos: uma avaliação da disciplina no Curso de Formação dos Oficiais da PMERJ. Cadernos de Segurança Pública, ano 7, n. 6. Rio de Janeiro: Instituto de Segurança Pública, 2015.
FAULL, A. Police Work and Identity: A South African Ethnography. Abingdon: Routledge, 2018.
FBSP – FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 10o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: FBSP, 2016.
FBSP – FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 14o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: FBSP, 2020.
FILHO, W. A. Ordem Pública ou Ordem Unida? Uma análise do curso de formação de soldados da Polícia Militar em composição com a política de segurança pública do governo do Estado do Rio de Janeiro: Possíveis dissonâncias. Niterói: EDUFF, 2003.
FOLHA DIRIGIDA. ‘Todo ano faremos concurso para 2 mil policiais’, diz Witzel sobre PM. Folha Dirigida, Rio de Janeiro, 7 jan. 2019.
FRANÇA, Fábio Gomes e GOMES, Janaína Letícia de Farias. “Se não aguentar, corra!”: Um estudo sobre a pedagogia do sofrimento em um curso policial militar. Rev. bras. segur. pública. São Paulo v. 9, n. 2, 205, p. 142-159.
G1. PM é morto ao tentar prender assaltantes em Benfica, Zona Norte do Rio; é o 44o este ano. G1, Rio de Janeiro, 21 set. 2019.
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1987.
GRILLO, C. C. Coisas da vida no crime: Tráfico e roubo em favelas cariocas. Tese (Doutorado em Ciências Humanas) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
GUEDES, Simoni Lahud. Jogo de Corpo: um estudo de construção social de trabalhadores. Niterói: Ed. UFF, 1997.
GUIMARÃES, R. S.; DAVIES, F. A. Alegorias e deslocamentos do “subúrbio carioca” nos estudos das Ciências Sociais (1970-2010). Sociologia & Antropologia, v. 8, n. 2, 2018, p. 457-482.
HOLLOWAY, T. H. Polícia no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997.
KANT DE LIMA, R. Direitos Civis, Estado de Direito e ‘Cultura Policial’: A Formação Policial em Questão. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 11, n. 41, 2003, p. 241-256.
KANT DE LIMA, R. A polícia na cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e paradoxos. 3 ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
LEITÃO, D. K.; GOMES, L. G. Etnografia em ambientes digitais: perambulações, acompanhamentos e imersões. Revista Antropolítica, n 42, 2017, p. 41-65.
LOPES, C. S.; RIBEIRO, E. A.; TORDORO, M. A. Direitos Humanos e Cultura Policial na Polícia Militar do Estado do Paraná. Sociologias, ano 18, n. 41, 2016, p. 320-353.
MACHADO DA SILVA, L. A. Violência urbana, segurança pública e favelas – o caso do Rio de Janeiro atual. Caderno CRH, v. 23, p. 283-300, 2010.
MAIA, B. Sujeitos de estado: Aprendizado e tradição de conhecimento na preparação de concursos públicos da burocracia fiscal. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
MARCUS, G. E. Ethnography in/of the World System. The emergence of multi-sited ethnography. Annual Review of Anthropology, n. 24, 1995, p. 95-117.
MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R.; CONSTANTINO, P. (Orgs.). Missão prevenir e proteger: condições de vida, trabalho e saúde dos policiais militares do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008.
MISSE, Michel; GRILLO, Carolina Cristoph; TEXEIRA, Celso Pinheiro; NERI, Natasha Elbas. Quando a polícia mata: homicídios por “autos de resistência” no Rio de Janeiro (2001-2011). Rio de Janeiro: NECVU, BOOKLINK, 2013.
MONET, J. C. Polícias e Sociedades na Europa. São Paulo: Edusp, 2006.
MOSCOVICI, S. Notes towards a description of Social Representations. European Journal of Social Psychology, v. 18, 1988, p. 211-250.
MOSCOVICI, S. A história e a atualidade das representações sociais. In: MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 167-214.
MUNIZ, J. O. Ser policial é, sobretudo, uma razão de ser: cultura e cotidiano da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 1999.
OLIVEIRA, M. Representação social e simbolismo: os novos rumos da imaginação na sociologia brasileira. Revista de ciências humanas. Curitiba: Editora da UFPR, n.7/8, 1999, p.173-193.
ORTNER, S. Poder e projetos: reflexões sobre a agência. In: ORTNER, S. Conferências e diálogos: saberes e práticas antropológicas. 25a Reunião Brasileira de Antropologia, Goiânia, 2006. Blumenau: Nova Letra, 2007, p. 45-80.
PINHEIRO, P. S. Autoritarismo e transição. Revista USP, n. 9, 1991, p. 45-56.
PIRES, L.; ALBERNAZ, E. A teoria na prática é outra coisa: formas escolarizadas e não escolarizadas na construção da identidade policial. Mimeo, 2019.
PONCIONI, P. Tornar-se Policial: a construção da identidade profissional policial no estado do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
PONCIONI, P. O modelo policial profissional e a formação profissional do futuro policial nas academias de polícia do Estado do Rio de Janeiro. Sociedade e Estado, v. 20, n. 3, 2005, p. 585-610.
PONCIONI, P. Políticas Públicas para a educação policial no Brasil: propostas e realizações. Estudos Sociológicos, v.17, n. 33, p. 315-331, 2012.
RADCLIFFE-BROWN, A. R. Estrutura e função na sociedade primitiva. Petrópolis: Vozes, 1973.
RAMOS, S. Violência e polícia: três décadas de políticas de segurança no Rio de Janeiro. Boletim Segurança e Cidadania, n. 21, mar. 2016.
REINER, R. A Política da Polícia. São Paulo: Edusp, 2004.
REUSS-IANNI, E.; IANNI, F. Street Cops and Management Cops: The two Cultures of Policing. In: PUNCH, M. (Org.). Control in the police organization. Cambridge: MIT Press, 1983, p. 251-274.
RICCIO, Vicente; BASILIO, Marcio Pereira. As diretrizes curriculares da secretaria nacional de segurança pública (SENASP) para a formação policial: a polícia militar do Rio de Janeiro e a sua adequação às ações federais. Guatemala. XI congreso internacional del CLAD sobre la reforma del Estado y de la administración pública, 2006.
RODRIGUES, E. O. Necropolítica: uma pequena ressalva crítica à luz das lógicas do “arrego”. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v.14, n.1, 2021, p.189-218.
RODRIGUES, E. O. O problema da escala: diálogos entre antropologia e geografia no Subúrbio Carioca. Anais do VIII Seminário Internacional do Ineac. 7-18 jun. 2021a [remoto], (no prelo).
RODRIGUES, E. O. Feitiços da rua: os diferentes tempos dos ilegalismos e seus usos a partir da descrição de um “esquema” de transporte complementar no subúrbio carioca. Revista Antropolítica, n. 53, 2021b.
RODRIGUES, E. O. “E o fuzil, tu vende pra quem?”: Os diferentes significados da corrupção entre candidatos à carreira de policial militar no Rio de Janeiro. Revista De Antropologia, 65(3), 2022.
SÁ, L. D. Os Filhos do Estado. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
SANSONE, L. Fugindo para a Força: Cultura Corporativista e “Cor” na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Estudos Afro-Asiáticos, ano 24, n. 3, 2002, p. 513-532.
SHEARING, C. Subterranean Processes in the Maintenance of Power: An Examination of the Mechanisms Coordinating Police Action. Canadian Review of Sociology, v. 18, n. 3, 1981, p. 283-298.
SILVA, G. B. “Quantos ainda vão morrer eu não sei”: o regime do arbítrio, curtição, morte e a vida em um lugar chamado de favela. Tese (Doutorado em Ciências Sociais e Jurídicas) – Faculdade de Direito, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
SILVA, J. Controle da Criminalidade e Segurança Pública na Nova Ordem Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1990.
SILVA, R. R. Entre a caserna e a rua: o dilema do “Pato”. Uma análise antropológica da instituição policial militar a partir da Academia de Polícia Militar D. João VI. Niterói: Editora da UFF, 2011.
SOARES, L. E. Desmilitarizar: segurança pública e direitos humanos. São Paulo: Boitempo, 2019.
SOARES, L. E.; SENTO-SÉ, J. T. Estado e segurança pública no Rio de Janeiro: dilemas de um aprendizado difícil. In: MUSUMECI, L. (Coord.). Segurança Pública no Rio de Janeiro: Políticas, instituições e inovações. Relatório final do projeto “Reforma do Estado e proteção social: Os setores de saúde e segurança no Rio de Janeiro”, subprojeto Segurança pública. Rio de Janeiro: Instituto de Economia da UFRJ, jan. 2000, p. 1-30.
SOARES, M. B.; MUSUMECI, L. Mulheres policiais: presença feminina na Polícia Militar do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
STORANI, P. Vitória sobre a morte: a glória prometida. O “rito de passagem” na construção da identidade dos operações especiais do BOPE/PMERJ. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2006.
STRATHERN, M. O conceito de sociedade está teoricamente obsoleto?. In: STRATHERN, M. O efeito etnográfico e outros ensaios. Coleção Argonautas. São Paulo: Ubu Editora, 2017, p. 191-200.
TURNER, V. Dramas sociais e metáforas rituais. TURNER, V. In: Dramas, campos e metáforas: ação simbólica na sociedade humana. Tradução de Fabiano de Morais. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2008, p. 19-54.
TURNER, V. O processo ritual: estrutura e antiestrutura. Petrópolis: Vozes, 2013.
VAN GENNEP, A. Os ritos de passagem. Petrópolis: Vozes, 1978.
WADDINGTON, P. A. J. Police (Canteen) sub-culture: an appreciation. The British Journal of Criminology, v. 39, n. 2, 1999, p. 287-309.
WEBER, M. Economia e Sociedade. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.
ZACHARIAS, J. J. M. Tipos psicológicos Junguianos e escolha profissional: uma investigação com policiais militares da Cidade de São Paulo. São Paulo: Vetor, 1995.
ZAVERUCHA, J. A Constituição brasileira de 1988 e seu legado autoritário: formalizando a democracia, mas retirando sua essência. In: ZAVERUCHA, J. Democracia e instituições políticas brasileiras no final do século XX. Recife: Bagaço, 1998, p. 113-147.
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2023 Revista Brasileira de Segurança Pública
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
Licencia
La Revista Brasileña de Seguridad Pública utiliza la Licencia Creative Commons como forma de licenciamiento para sus trabajos publicados. La licencia utilizada sigue el modelo CC BY 4.0 - Atribución 4.0 Internacional.
Para ver los derechos permitidos por favor vaya a la licencia completa o a nuestra página de Derechos de Autor y Licencias.