Os impactos do medo do crime sobre o consumo de atividades de lazer no Brasil

Autores

  • Cristiano Aguiar de Oliveira Universidade Federal do Rio Grande
  • Daniele Mendes Silva

DOI:

https://doi.org/10.31060/rbsp.2021.v15.n1.1179

Palavras-chave:

Medo do crime; atividades de lazer; economia do crime; Probit bivariado recursivo

Resumo

As altas taxas de criminalidade que o Brasil apresenta gera inúmeros impactos para a sociedade. Entre esses impactos estão o medo de ser vítima do crime e as mudanças de comportamento dos indivíduos. Neste sentido, este estudo tem o objetivo de avaliar como o medo do crime afeta o consumo de atividades de lazer dos indivíduos, tais como ir a cinemas, shoppings, parques, eventos esportivos, feiras, bares, restaurantes e shows. Para este fim, este estudo utiliza os dados da Pesquisa Nacional de Vitimização do ano de 2012 para estimar um Probit bivariado recursivo, um modelo capaz de lidar com potenciais problemas de endogeneidade. Os resultados indicam que o medo reduz a probabilidade do consumo de lazer na maioria das atividades investigadas, com destaque para eventos esportivos, contudo, foi observado um aumento no consumo de atividades que oferecem mais segurança para os clientes, tais como feiras e shopping centers. O estudo conclui que a criminalidade traz perdas de bem-estar que vão além das perdas econômicas costumeiramente contabilizadas em estudos de custos do crime, pois, não se pode ignorar que o medo do crime é capaz de reduzir a liberdade dos indivíduos e, consequentemente, de trazer perdas até então não observadas para as atividades econômicas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Cristiano Aguiar de Oliveira, Universidade Federal do Rio Grande

Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande (PPGE/Furg).

Daniele Mendes Silva

Mestre em Economia Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande - PPGE/FURG. Bacharela em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (2016). Tem interesse em temas que envolvem análise de políticas públicas, métodos quantitativos aplicados à economia, econometria, estatística espacial, desenvolvimento regional, economia social, mercado de capitais, área financeira e qualidade.

Referências

ALMEIDA, E. B. O consumo público de eventos esportivos: um olhar para além dos estádios de futebol. São Paulo: FGV, 2014.

ARENDT, J. N.; LARSEN, H. A. Probit models with dummy endogenous regressors. SSRN Electronic Journal, 2006.

BECKER, G. S. Crime and punishment: An Economic Approach. Journal of Political Economy, v. 76, n. 2, p. 169-217, 1968.

BECKER, G. S.; RUBINSTEIN, Y. Fear and the Response to Terrorism: An Economic Analysis, Centre for Economic Performance, LSE, Chicago, 2004.

BRANDS, J.; VAN AALST, I; SCHWANEN, T. Safety, surveillance and policing in the night-time economy: (Re)turning to numbers. Geoforum, v. 62, p. 24-37, 2015.

BRANDS, J. Fear of crime and affective ambiguities in the night-time economy. Urban Studies, v.52, p. 439-455, 2013.

CARDOSO, M. L. F; LOUREIRO, P. R. A. Desempenho econômico de atividades comerciais noturnas e criminalidade. Brasília: UNB, 2017.

CHATTERTON, P.; HOLLANDS, R. Theorizing urban playscapes: producing, regulating and consuming youthful nightlife city spaces. Urban Studies, v. 39, p.95-116, 2002.

CLARKE, R. V. Situational Crime Prevention: Theory and Practice. The British Journal of Criminology, v. 20, n. 2, p. 136-147, 1980.

CLARKE, R. V. Situational Crime Prevention. Crime Justice, v. 19, p. 91–150, 1995. DOI: https://doi.org/10.1086/449230.

COHEN, L. E.; FELSON, M. Social Change and Crime Rate Trends: A Routine Activity Approach. American Sociological Review, v. 44, p. 588-608, 1979.

CORNISH, D. B.; CLARKE, R.V. Modeling Offenders' Decisions: A Framework for Research and Policy. Crime and Justice, v. 6, p.147-185, 1985.

CRAWFORD, D.; GODBEY, G. Reconceptualizing barriers to family leisure. Leisure Sciences. v. 9, p. 119-127, 1987.

DEFRONZO, J. Fear of crime and handgun ownership. Criminology, v. 17, n. 3, p. 331-340, 1979.

DOLAN, P; PEASGOOD, T. Estimating the economic and social costs of the fear of crime. British Journal of Criminology, v. 47, n.1, p. 121-132, 2006.

FARRALL, S.; GADD, D. The Frequency of the Fear of Crime. British Journal of Criminology, v. 44, n. 1, p. 127-132, 2004.

FEATHER, P.; SHAW, W. D. Estimating the Cost of Leisure Time for Recreation Demand Models. Journal of Environmental Economics and Management, v. 38, n. 1, p. 49–65, 1999.

FERRARO, K.F. Fear of crime: Interpreting victimization risk. SUNY press, 1995.

GAROFALO, J. Victimization and fear of crime. Journal of Research in Crime and Delinquency, n. 16, p. 80-97, 1979.

GAROFALO, J. The fear of crime: Causes and consequences. The Journal of Criminal Law and Criminology, v. 72, n. 2, p. 839–857, 1981.

GREENBAUM, R.T.; TITA, G. E. The Impact of Violence Surges on Neighborhood Business Activity. Urban Studies, v. 41, n. 13, p.2495–2514, 2004.

GREENE, W. H. Econometric Analysis. 7 ed. New Jersey: Prentice Hall, 2002.

GRONAU, W.; KAGERMEIAR, A. Key factors for successful leisure and tourism public transport provision. Journal of Transport Geography, v.15, n.2, p 127-135, 2007.

HALE, C. Fear of Crime: A Review of the Literature. International Review of Victimology. v.4, n.2, p. 79-150. 1996.

HAVIGHURST, R. J.; FEIGENBAUM, K. Leisure and Life-Style. American Journal of Sociology, v 64, n. 4, p. 396-404, 1959.

HE, K. A behavior study of transport impacts of mega events. University of Southampton, Faculty of Engineering and the Environment, 2012.

HELMS, G. Towards Safe City Centres? Remaking the Spaces of an Old Industrial City. University of Glasgow, 2008.

HINDELANG, M. J.; GOTTFREDSON, M. R.; GAROFALO, J. Victims of personal crime: an empirical foundation for a theory of personal victimization. Cambridge, Mass.: Ballinger Pub. Co., 1978. 324 f.

JARA-DÍAZ, S.R.; FARAH, M. Transport demand and user's benefits with fixed income: the goods / leisure trade - off revisited. Transportation Research, v.21, p. 165-170, 1987.

LEE, Y. G.; BHARGAVA, V. Leisure Time: Do Married and Single Individuals Spend It Differently? Family and Consumer Sciences Research Journal, v. 32, p. 254-274, 2004.

LISKA, A E.; SANCHIRICO, A.; REED, M. D. Fear of crime and constrained behavior specifying and estimating a reciprocal effects model. Social Forces, v. 66, n. 3, p. 827–837, 1988.

MADDALA, G. S.; LEE, L. F. Recursive Models with Qualitative Endogenous Variables. Annals of Economic and Social Measurement, v. 5, n. 4, p. 525–545, 1976.

MOEN, B. E.; RUNDMO, T. Explaining Demand for Risk Mitigation, Trondheim: Rotunde Publikasjoner no. 86, 2004.

MOREIRA, F. A. Demanda e oferta de entretenimento: um estudo do segmento de Baixa Renda do distrito de Itaquera na Cidade de São Paulo. São Paulo: FGV, 2006.

OLIVEIRA, C. The impact of private precautions on home burglary and robbery in Brazil. Journal of Quantitative Criminology, v. 34, n.1, p. 111-137, 2018.

ORTHNER, D. K. Leisure Activity Patterns and Marital Satisfaction over the Marital Career. Journal of Marriage and Family, v. 37, n. 1, p. 91-102, 1975.

OWEN, J. D. The Demand for Leisure. Journal of Political Economy, v. 79, n. 1, p. 56–76, 1971.

PAIN, R. Place, social relations and the fear of crime: a review. Progress in Human Geography, v. 24, n. 3, p. 365-387, 2000.

PHANEUF, D. J.; SMITH, V. K. Recreation Demand Models. Handbook of Environmental Economics, Chapter 15, 2, 671-761, 2005.

SÁ-EARP, F; SROULEVICH, H. O comportamento do consumidor de produtos culturais e os combos de entretenimento. In: MELO, Victor A. (Org.). Lazer: aspectos históricos, configurações contemporâneas. São Paulo: Alínea, 2009.

SÁ-EARP, F. O espectador eventual: notas sobre a demanda por cinema no Brasil. Políticas Culturais em Revista, v. 2, n. 1, p. 77-87, 2009.

SHAW, S M. Gender and Leisure: Inequality in the Distribution of Leisure Time. Journal of Leisure Research, v.17, p. 266-282, 2018.

SILVA, B. F. A.; BEATO FILHO, C. Ecologia social do medo: avaliando a associação entre contexto de bairro e medo de crime. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 30, p. S155-S170, 2013.

WARR, M. Fear of victimization: Why are women and the elderly more afraid? Social Science Quarterly, v.65, p.681-702, 1984.

ZANI, B.; KIRCHLER, E. When violence overshadows the spirit of sporting competition: Italian football fans and their clubs. Journal of Community. Appl. Soc. Psychol., v.1, p. 5-21, 1991.

Publicado

22-03-2021

Como Citar

OLIVEIRA, Cristiano Aguiar de; MENDES SILVA, Daniele. Os impactos do medo do crime sobre o consumo de atividades de lazer no Brasil. Revista Brasileira de Segurança Pública, [S. l.], v. 15, n. 1, p. 156–173, 2021. DOI: 10.31060/rbsp.2021.v15.n1.1179. Disponível em: https://revista.forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/view/1179. Acesso em: 28 mar. 2024.